Visita Itamar é o nome do disco ao vivo que Arrigo Barnabé e a banda Trisca – trio derivado da banda Isca de Polícia, que acompanhava o “maldito” – lançam para lembrar Itamar Assumpção, morto em 2003.
O projeto nasceu depois de Arrigo participar de apresentações da Isca de Polícia. O paranaense perguntou ao baixista e diretor musical da banda, Paulo Lepetit, se queria fazer um show inteiro.
Do show veio a gravação ao vivo, com Arrigo, Lepetit (que fez também os arranjos), Jean Trad (guitarra) e Marco da Costa (bateria), que virou o disco Visita Itamar, agora lançado pela Atração.
No álbum audiovisual é possível ver Arrigo no palco com uma antiga máquina de escrever, representando um “contato mediúnico” com Itamar, uma performance que faz parte do show com a banda Trisca.
No repertório, além de músicas de Itamar Assumpção, há compositores do universo do parceiro e canções que Arrigo incluiu por terem ligação com o conjunto de músicas selecionadas para o disco.
De Itamar Assumpção, Fico Louco e Tristes Trópicos (com Ricardo Guará), feita quando moravam juntos no Bexiga, em São Paulo. “Guará e o Rubão eram os médicos. Eu e Itamar, os monstros”, conta, aos risos, Arrigo Barnabé em entrevista a CartaCapital sobre os tempos em que os quatro músicos moravam juntos, na década de 1970.
Também de Itamar, há Dor Elegante (com Paulo Leminski). “Quando ele compôs, a gente estava fazendo shows e ele tocava muito essa música. Sempre quis gravá-la”, diz. Após essa música, Arrigo declama um poema pelo qual tem grande apreço: O Relógio do Rosário, de Carlos Drummond de Andrade.
Mal Menor, também no repertório do álbum, é uma música de Itamar gravada anteriormente por Arrigo. Já no caso de Noite Torta, o músico tem uma deferência especial: “Esta sempre quis fazer. Acho uma obra-prima do Itamar”.
O disco prossegue com Oh Maldição, de Arrigo com o irmão, Paulo Barnabé, e seis sambas com arranjos de rock vanguardista.
Há, ainda, Quando Eu Me Chamar Saudade (Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito), Luz Negra (Nelson Cavaquinho e Irani Barros), Errei Erramos (Ataulfo Alves), Na Cadência do Samba (Ataulfo Alves, Paulo Gesta e Matilde Alves), O Sentido do Samba (Arrigo Barnabé e Sérgio Espíndola) e De Mais Ninguém, de Arnaldo Antunes e Marisa Monte – esta, um samba-choro que caiu no gosto de Arrigo.
Itamar Assumpção lançou um disco em 1996 só com músicas de Ataulfo Alves. “E a gente curtia Nelson Cavaquinho e Cartola”, emenda Arrigo.
Para ele, a letra de Quando Eu Me Chamar Saudade era quase um mantra de Itamar: “Sei que ninguém vai se lembrar/ Que eu fui embora/ Por isso é que eu penso assim/ Se alguém quiser fazer por mim/ Que faça agora/ Me dê as flores em vida/ O carinho, a mão amiga…”
O disco termina, em uma mesma faixa, com Nego Dito (de Itamar, feita quando moravam juntos) e Clara Crocodilo (Arrigo Barnabé e Mario Cortes), faixa-título do clássico álbum de Arrigo Barnabé de 1980.
“Itamar foi muito bem-sucedido”, relembra Arrigo. “Acompanhei e percebi a evolução, o aperfeiçoamento. Ele estava sempre empenhado em melhorar. Tem um momento em que ele dá um salto nas letras. Elas começaram a ganhar uma qualidade muito grande. Ele fica lírico.”
Segundo Arrigo, eles buscavam uma qualidade musical de artistas que surgiram uma década antes, incluindo Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Paulinho da Viola e Edu Lobo.
“A gente foi fazer música por causa dessa geração”, afirma. “Conheci Itamar em 1972, 1973. Já estavam claras para a gente as transformações da música naquela época.”
Veio, então, o movimento da Vanguarda Paulista, capitaneado pelos trabalhos de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção, no final dos anos 1970.
“O que caracteriza a Vanguarda é a ruptura. No meu caso, uma ruptura na área musical. Incorpora a dissonância com toda a agressividade que ela tem. Não existia isso”, explica. “Luiz Tatit fez o canto falado. O Premê trabalhou com humor de uma maneira que não se fazia, com uma erudição. Itamar era o mais popular. Ele falava para mim: ‘não sou experimental, sou popular’.”
“Itamar era mais do samba. Quando ele foi buscar umas gravadoras em São Paulo, em 1976, os caras queriam que fizessem um disco de ponto de umbanda. Ele ficou puto”, recorda. “Ele devia tocar as músicas para os caras. O pai dele era pai de santo. Então, ele sabia cantar as músicas do ritual. Ele tinha feito umas músicas de umbanda e depois gravou.”