O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, determinou que o padre Júlio Lancellotti suspenda imediatamente todas as suas atividades nas redes sociais e interrompa as transmissões ao vivo de missas. A decisão, acatada pelo religioso e tornada pública no domingo (14), ocorre em meio à escalada de ataques políticos contra o sacerdote, conhecido nacionalmente por sua atuação em defesa da população em situação de rua.
A ordem partiu diretamente do arcebispo e foi confirmada pelo próprio Lancellotti durante uma celebração. As transmissões dominicais, exibidas pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores), pelo portal ICL e pelo YouTube, eram um dos principais canais de comunicação do padre com fiéis e apoiadores.
Questionado sobre a determinação, Lancellotti afirmou que irá cumpri-la sem questionamentos. “Dom Odilo me pediu para dar um tempo. Ele acha que é uma forma de recolhimento e de proteção”, disse o sacerdote, à coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo. Ele acrescentou que tem “apenas que obedecer”.
Rumores sobre afastamento de paróquia
A decisão da Arquidiocese ocorre em um momento de forte exposição pública do padre e de ofensivas crescentes de parlamentares e grupos ligados à direita. Na investida mais recente, o deputado federal Junio Amaral (PL-MG) publicou um vídeo no Instagram afirmando ter levado à Embaixada do Vaticano um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas pedindo o afastamento de Lancellotti de suas funções.
A pressão política se soma a rumores internos na Igreja. Nos últimos dias, circularam mensagens em grupos ligados à Arquidiocese sugerindo que dom Odilo poderia remover Lancellotti da paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, na Zona Lesta paulista, onde o padre atua há mais de quatro décadas.
Sobre essa possibilidade, o próprio Lancellotti afirma que nenhuma decisão foi formalizada. Segundo ele, a remoção “ainda não aconteceu”. O sacerdote explicou que, pelas normas da Igreja, padres podem ser afastados de suas funções ao completar 75 anos, idade de aposentadoria. Lancellotti fará 77 anos no próximo dia 27.
Ele pondera, no entanto, que a regra não é automática e que muitos religiosos seguem em atividade por mais tempo. “Alguns depois de completar 80, 90 anos”, afirmou, a depender da “necessidade da igreja”.
Assim, apesar da determinação que o afasta das redes sociais e das transmissões de missas, não há, até o momento, decisão oficial sobre sua permanência ou retirada da paróquia da Mooca. A suspensão digital, porém, marca um novo capítulo na relação entre o padre e a cúpula da Igreja paulista, sob crescente pressão política externa.