Por Leonardo Sakamoto
É um escândalo que Javier Milei permita que condenados pela Justiça brasileira por participarem do ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 usem o seu país como plataforma para bombar manifestações que defendem atos golpistas e, portanto, têm a mesma natureza.
Reportagem do UOL, neste sábado (24), mostra que brasileiros que fugiram para a Argentina a fim de evitar punições por seus crimes gravaram vídeos conclamando para protestos no Brasil no próximo 7 de setembro.
A justificativa é atacar o ministro Alexandre de Moraes, relator no Supremo Tribunal Federal da ação que julga a tentativa de golpe de Estado. Reclamam que uma série de reportagens da Folha de S.Paulo, que critica o ministro, mostra que ele agiu fora da linha. Na prática, contudo, o objetivo do grupo é defender o golpismo que se instalou no Brasil entre a derrota eleitoral do bolsonarismo em outubro de 2022 e o 8 de janeiro.
Milei nunca se furtou a demonstrar a amizade com a família Bolsonaro e o desprezo pelo presidente Lula. Tanto que faltou a uma reunião do Mercosul para participar de um evento da extrema direita em Santa Catarina, colocando seus interesses pessoais à frente daqueles dos argentinos. Também já ofereceu ajuda ao bilionário Elon Musk em meio aos seus ataques contra Moras e o STF.
Quando levas de condenados ou processados começaram a quebrar suas tornozeleiras eletrônicas e fugirem para o vizinho, Milei foi criticado, mas deu guarida. A justificativa tem sido de que o asilo político é uma tradição latino-americana — mesmo que, normalmente, seja ele ser concedido aos que fogem de uma ditadura, não para aqueles que fogem por tentar implementar uma.
Agora, os fujões brasileiros estão usando o local que os acolheu como plataforma para atacar um dos poderes da República. Pior: para convocar por atos que tentam reescrever uma parte tenebrosa de nossa história recente. Vendem-se como heróis, mas são bandidos comuns.
O silêncio de Milei diante disso será anuência, o equivalente a chancelar o que os fujões estão fazendo. Ou seja, interferência na política interna de um país amigo e interdependente econômica e socialmente do seu.
Torçamos para que os adultos no governo argentino ou pelo menos o espírito de Conan, seu cachorro morto com o qual Milei já confessou conversar através de um medium, o aconselhem de que esse tipo de agressão não é uma boa ideia.
Publicado originalmente no UOL