Argentina e as eleições presidenciais no Brasil em 2026, segundo análise de Angelita Matos Souza

Argentina e as eleições no Brasil em 2026

por Luciana Silva

Escrevo desde Mendoza, uma das províncias mais ricas da Argentina. Segundo dados do INDEC, na região metropolitana de Mendoza, mais de 64% da população se encontra em situação de pobreza. No país, a pobreza alcança 51,1%, índice 10% maior que há um ano (dados do 1º semestre de 2024). Ou seja, hoje, mais da metade da população argentina é considerada pobre, e chama a atenção o empobrecimento das camadas médias.

Mesmo assim, a popularidade do presidente Javier Milei segue boa. Uma sondagem realizada no início de novembro indicou 48% de aprovação em nível nacional e 49% na província de Buenos Aires. Ouvi de um colega que quem detém a província controla o país, de outro que Buenos Aires não basta, mas a província é considerada crucial (a vida política aqui é bem territorializada).

O principal fator para a manutenção da aprovação popular a um presidente tão polêmico seria a impressão de que economia está melhorando, sendo a queda da inflação a evidência mais apontada pelos meios de comunicação e sondagens da opinião pública (e pelos motoristas de taxi/uber). Pelo jeito, pouco importa que a causa seja, em boa medida, porque “no hay plata” para o consumo.

Do meu ponto de vista, é preocupante a possibilidade real de sucesso do governo, pois pode resultar na replicação do “modelo motosserra” em outros países da região, modelo que o presidente Milei já disse estar exportando para os EUA de Trump (rs). E por “sucesso” entendo apenas o suficiente para garantir a sua reeleição.

No entanto, uma leitura me serviu de alento: Breve história do antipopulismo, de Ernesto Semán (2021). De fato, gostei de uma ideia do autor, segundo a qual, na Argentina, a ambição de restaurar a nação idealizada [existente antes da suposta “decadência populista”], por meio da domesticação dos setores populares, dura três anos. Isto é, a lua de mel entre governantes e insurgentes é de três anos. Se a situação não melhora, o país explode.

Não sei se verossímil, mas o autor aponta dados históricos. Inclusive na última ditadura (iniciada em 1976) teria sido assim. Em que pese todo o terrorismo de Estado, em 1979 a CGT convocou a primeira greve geral.

Assim sendo, a Argentina de Milei deve explodir ao final de 2026, ano eleitoral para nosotros, e talvez em 2025 a conjuntura já esteja pré-explosiva. Agora, se o presidente se reeleger, será no seu segundo mandato. O que pode não ser bom para a campanha eleitoral de 2026 no Brasil.

No mais, a Argentina profunda, o seu Nordeste, é muito bonito. O problema é que o país está muito caro e muitos argentinos (os que ainda podem) já se preparam para passar as férias em Santa Catarina. Certamente, estes votarão pela reeleição de Milei.


Luciana Silva – Cientista Social, docente na UNESP, em intercâmbio na Universidad Nacional del Nordeste (UNNE-Argentina).

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