A Argentina de Gabriel Milei enviou à Londres um terceiro carregamento com cerca de 1.500 barras de ouro do Banco Central, avaliadas em 250 milhões de dólares, segundo noticiou o jornal argentino C5N.

Nesta semana, um vídeo com caminhões transportando as reservas de ouro à capital do Reino Unido viralizou, levantando questionamentos da população argentina e de críticos sobre a falta de transparência e o impacto da remessa milionária ao país.

“Estão levando o ouro e não querem falar”, afirmou o deputado do partido Frente de Todos, Santiago Palazzo, nesta terça-feira (20).

“Temos registrado, no mínimo, quatro ou cinco saídas de ouro do Banco Central para o exterior e quando fazemos a consulta pelos canais oficiais e institucionais que correspondem, a resposta do BCRA [Banco Central] é negar responder a todas as informações que solicitamos”, criticou.

O argumento do governo Milei é de que “qualquer dado ligado à localização estratégica poderá pôr em risco a segurança destes ativos, com o consequente impacto na política monetária e cambial”.

No final de julho, o ministro da Economia da Argentina, Lucas Caputo, havia confirmado que o país estava enviando ao exterior barras de ouro das reservas internacionais do Banco Central, restringindo-se a falar que o envio “permitiria ao país obter retornos financeiros que não seriam possíveis de outra forma”.

Mas tanto o ministro, quanto outros canais do governo de Gabriel Milei não trazem transparência às razões para o retiro das reservas do país em ouro e envio ao Reino Unido. “É um governo que está demonstrando que não quer ser fiscalizado e não quer informar à sociedade o que está fazendo”, disse Palazzo, ao período argentino Pagina12.

Analistas entendem que os envios das remessas do país seriam para fazer operações comerciais. Entretanto, criticam, uma vez que as reservas em ouro do Banco Central são os principais mecanismos de solidez para sustentar as moedas nacionais.

“Por que levam o ouro? Há diversas operações que podem fazer. Uma, a que o próprio [ministro da Economia] Caputo disse, se chama ‘compra e recompra’ do ouro, que é feita por meio do banco internacional de transações, a Basileia [na Suíça]. Mas por que para Londres? Porque não é possível monetizar o ouro para fazer uma operação mantendo-o no próprio país. Isso significa que vão fazer essa operação”, raciocinou o deputado.

Não só os parlamentares de oposição da Argentina questionaram as remessas, sem qualquer explicação, como diversos setores da sociedade civil. O coordenador de políticas institucionais da Casa de la Provincia de Tierra del Fuego, Alexis Román Kalczynski, também confirmou ao jornal RT que “não se sabe de nada” sobre as movimentações.

Kalczynski explicou que para a retirada do ouro do país é, ainda, necessário formalizar um procedimento junto ao Banco Central, que, por sua vez, não traz nenhum esclarecimento. Segundo o especialista, a saída do ouro “atenta diretamente contra a soberania argentina”, uma vez que Buenos Aires detém cerca de US$ 4,6 bilhões em ouro e não se sabe, exatamente, quanto foi enviado à Londres.

Outros políticos, como o partido União pela Pátria, de Cristina Kirchner e Sergio Massa, emitiram uma petição, pedindo a suspensão imediata do envio das reservas e o detalhamento das operações e riscos.

Ao jornal La Nación, Caputo disse que o envio dos recursos ao exterior possibilitava obter “um retorno sobre ele”, também sem trazer detalhes. “É muito melhor tê-lo guardado lá fora, onde você recebe algo”, limitou-se a responder.

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Última Atualização: 20/08/2024