Argentina avalia saída do Mercosul para avançar em acordo comercial com os EUA

O presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, que está considerando a possibilidade de retirar o país do Mercosul caso isso seja necessário para consolidar um acordo comercial com os Estados Unidos.

A declaração foi feita em entrevista à Bloomberg, na qual Milei também mencionou a existência de alternativas para negociar dentro do bloco sul-americano, evitando uma saída imediata.

“Existem mecanismos que podem ser utilizados dentro do Mercosul, então acreditamos que é possível alcançar um acordo sem sair do bloco”, declarou o presidente argentino. A fala revela uma postura ambígua em relação ao futuro da Argentina no bloco, que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, além de outros países associados.

Milei, que assumiu a presidência em dezembro de 2023, tem sido crítico do Mercosul, classificando-o como uma “prisão protecionista”.

No entanto, até o momento, não cumpriu as promessas de campanha de retirar o país do bloco. Em vez disso, no final de 2023, a Argentina apoiou os esforços para acelerar a aprovação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, que foi assinado em dezembro após anos de negociações.

A possível saída da Argentina do Mercosul representa um desafio significativo, considerando a forte integração econômica do país com o Brasil, seu principal parceiro comercial. Uma ruptura com o bloco poderia impactar negativamente o comércio bilateral e agravar a crise econômica que a Argentina enfrenta atualmente.

Crise econômica e reformas propostas
A Argentina vive uma crise econômica profunda, com inflação anual superior a 200%, reservas internacionais em níveis críticos e uma dívida pública crescente. Durante a entrevista, Milei reiterou o compromisso de sua equipe com a meta de déficit zero e mencionou planos para suspender os controles cambiais e fortalecer o mercado de capitais. No entanto, o presidente evitou fornecer detalhes sobre prazos ou etapas específicas para a implementação dessas medidas.

A proposta de dolarização da economia, uma das principais promessas de campanha de Milei, também não foi detalhada na entrevista. A falta de um cronograma claro para as reformas tem gerado incertezas sobre a capacidade do governo de estabilizar a economia no curto prazo.

Relações com os EUA e o Mercosul
As declarações de Milei em Davos refletem uma estratégia de aproximação com os Estados Unidos, país que o presidente argentino vê como um aliado estratégico para impulsionar a economia doméstica. No entanto, a busca por um acordo comercial com os EUA pode colocar em risco a participação da Argentina no Mercosul, bloco que representa uma parcela significativa do comércio exterior do país.

Apesar das críticas ao Mercosul, a economia argentina depende fortemente das relações comerciais com os países membros, especialmente o Brasil. Em 2023, o Brasil foi o destino de 15% das exportações argentinas e a origem de 21% das importações, segundo dados oficiais. Uma saída do bloco poderia resultar em tarifas mais altas e barreiras comerciais, afetando setores como o automotivo, agrícola e industrial.

Reações e implicações
As declarações de Milei geraram reações mistas. Enquanto alguns setores veem a possibilidade de um acordo com os EUA como uma oportunidade para diversificar a economia e atrair investimentos, outros alertam para os riscos de isolar a Argentina em um cenário global cada vez mais interdependente.

Especialistas destacam que a retórica de rompimento com o Mercosul pode agradar aliados políticos nos Estados Unidos, mas ignorar as consequências econômicas de uma saída do bloco seria arriscado. Além disso, a falta de clareza sobre os planos de reformas econômicas pode aumentar a instabilidade e desconfiança no mercado.

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