Adolescente acessando a internet. Foto: ilustração

Uma investigação da Polícia Civil de São Paulo revelou um cenário chocante de violência digital contra adolescentes, comparado pela delegada Lisandréa Salvariego, coordenadora do Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad), a “um Coliseu moderno”. Na 2ª fase da Operação Nix, realizada nesta quinta-feira (3), foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão e nove de internação de adolescentes envolvidos em crimes que incluíram estupro virtual, automutilação forçada e humilhações transmitidas ao vivo.

“Elas introduzem objetos perfurocortantes nas genitais, cortam o bico do seio, tomam água da privada. É surreal”, descreveu a delegada ao Estadão. As vítimas, na maioria meninas entre 12 e 17 anos, são coagidas após enviarem fotos íntimas em falsos relacionamentos online.

Os agressores, muitos também menores, usam técnicas de hacking para ampliar o controle, incluindo cortar serviços básicos como luz e água das famílias.

Como funcionam as “arenas virtuais”

Os crimes ocorrem em plataformas como Discord, onde grupos se reúnem para assistir e comandar as violências:

– Vítimas ficam no centro da tela enquanto recebem ordens de automutilação;
– Agressores exigem que escrevam nomes em seus corpos com lâminas;
– Cenas são gravadas e vendidas como pornografia infantil;
– Um caso envolveu obrigar uma adolescente a ingerir ácido.

Celulares apreendidos pela Operação Nix. Foto: reprodução

“A contemplação lasciva sem contato físico já configura estupro”, explica a delegada sobre a jurisprudência do STJ que embasa as investigações. A pena pode chegar a 30 anos se resultar em morte.

Entre os investigados está um adolescente brasileiro radicado na França, de família abastada, que supostamente recrutava outros jovens e comprava equipamentos para os crimes. “Passamos o caso para a polícia francesa e acreditamos que ele já foi apreendido”, disse Lisandréa.

Desde sua criação em 2024, o Noad estima ter evitado o suicídio de mais de 160 vítimas dessas violências. A operação, nomeada em referência à deusa grega Nêmesis, já cumpriu ações em cinco estados e deve ter novas fases.

Enquanto plataformas como Discord não se manifestaram sobre os casos, a delegada alerta: “Os pais muitas vezes demoram para acreditar no que acontece com seus filhos online”. A investigação continua para desmontar toda a rede criminosa.

 

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 05/07/2025