Aref al-Aref nasceu em Jerusalém, no seio de uma família árabe local. Seu pai, Shehadeh al-Aref, proporcionou-lhe a formação inicial na escola Ma’mouniya, também em Jerusalém, antes de enviá-lo a Istambul.
Lá, entre 1909 e 1913, Aref estudou no prestigiado colégio Nümune-i Terakki e formou-se na faculdade de artes da Universidade de Istambul. Para custear seus estudos, trabalhou na imprensa otomana e participou do Clube Literário Nacionalista (al-Muntada al-Adabi), ponto de encontro de estudantes árabes onde se discutia a história e os direitos do povo árabe.
Após sua graduação, foi contratado pelo Ministério das Relações Exteriores do Império Otomano como tradutor. Com o início da Primeira Guerra Mundial, ingressou na academia militar e foi enviado como oficial na frente do Cáucaso, onde participou dos combates contra o Exército russo.
Foi feito prisioneiro pelos russos e deportado a um campo de prisioneiros na Sibéria. Durante os três anos em que esteve detido, aprendeu russo e alemão, chegando a traduzir para o árabe a obra de Ernst Haeckel O Enigma do Universo. Ao lado do também prisioneiro Ahmed al-Kilani, editou o jornal satírico Naqat Allah, escrito em árabe e voltado aos companheiros presos. Foram cerca de cinquenta edições entre 1916 e 1917.
Em 1918, conseguiu escapar do cativeiro e iniciou um longo retorno à Palestina, atravessando o Extremo Oriente. Só chegou a Jerusalém no final de fevereiro de 1919, após dez anos de ausência. Durante a viagem, escreveu Minha Visão, uma espécie de livro alegórico em forma de sonho que expressava suas ideias sobre o renascimento do mundo árabe, com base no secularismo, na educação e no progresso científico.
De volta à sua terra natal, ingressou no Clube Árabe e fundou, ao lado de Mohammed Hassan al-Budairi, o jornal Síria Meridional (Southern Syria), que teve sua primeira edição em 8 de setembro de 1919. Foi o primeiro jornal nacionalista da Jerusalém sob o domínio britânico, e tornou-se instrumento de combate à Declaração Balfour e à política pró-sionista do império britânico. Por isso, foi diversas vezes censurado e fechado pelas autoridades coloniais.
Aref foi uma das figuras centrais da celebração do festival Nabi Musa em 4 de abril de 1920, quando discursou ao lado de Haj Amin al-Husseini e Omar al-Saleh al-Barghouthi diante de uma multidão de milhares. A mobilização resultou em violentos confrontos com colonos judeus e na repressão britânica.
Acusado de incitar a violência, Aref fugiu com Husseini para além do rio Jordão e depois para Damasco. Os britânicos o condenaram à revelia a dez anos de prisão.
Em Damasco, representou Jerusalém no Congresso Geral Sírio, e contribuiu para a fundação da Associação da Palestina. Foi eleito para sua diretoria e participou da criação da sociedade secreta Juventude da Palestina (Fata Filastin), voltada à preparação de ações armadas na fronteira norte do território.
Com a queda do governo árabe na Síria, em julho de 1920, após a invasão francesa, Aref fugiu para a Transjordânia. Só retornaria a Jerusalém em 1921, após o alto-comissário britânico Herbert Samuel conceder anistia aos envolvidos nos eventos do Nabi Musa. Mesmo assim, foi impedido de atuar politicamente ou dirigir publicações.
Entre 1921 e 1926, atuou como oficial distrital em cidades como Jenin, Nablus, Baysan e Jafa. De 1926 a 1929, foi secretário-geral do governo de Abdullah ibn al-Hussein na Transjordânia. Em 1929, assumiu a chefia do subdistrito de Bir al-Sabi’ (atual Be’er Sheva), posto que ocupou por uma década, antes de passar por Gaza e Ramalá. Em 1943, tornou-se comissário adjunto do distrito de Jerusalém, posto que ocupava quando o Mandato Britânico foi encerrado, em 15 de maio de 1948.
Após a anexação da Cisjordânia à Jordânia, em 1949, o rei Abdullah o nomeou prefeito de Jerusalém. Em 1951, foi reeleito com maioria absoluta dos votos. Em 1955, aceitou o convite para ser ministro das Obras Públicas no governo de Hazza‘a al-Majali, mas renunciou pouco depois, por se opor à adesão da Jordânia ao Pacto de Bagdá, instrumento imperialista liderado pelos EUA e Reino Unido no Oriente Médio.
A partir de então, dedicou-se à pesquisa histórica. Tendo testemunhado pessoalmente a Nakba e documentado seus desdobramentos diários, Aref reuniu depoimentos, documentos e relatos de palestinos em todo o mundo árabe. Com esse material, produziu uma das maiores obras historiográficas sobre a catástrofe de 1948: seis volumes publicados entre 1956 e 1961, que seguem sendo uma das fontes árabes mais completas sobre o tema.
Seu método rigoroso se apoiava na observação direta, na documentação oficial acumulada durante sua atuação como funcionário do mandato britânico e numa rede de informantes composta por militantes, dirigentes e cidadãos comuns. Escreveu também sobre a história social e geográfica de diversas regiões da Palestina, caracterizando seus habitantes e tradições, o que contribuiu decisivamente para a preservação da identidade nacional palestina.
Além da escrita, Aref esteve engajado em atividades sociais. Presidiu o comitê da Liga dos Veteranos Feridos de Guerra em Jerusalém e foi curador da Sociedade para o Reerguimento da Família, em al-Bireh, organização liderada por Samiha Khalil, importante militante pelos direitos das mulheres.
Em 1963, foi nomeado diretor do Museu Palestino de Jerusalém, fundado ainda durante o Mandato com apoio da Fundação Rockefeller. Em 1967, realizou a peregrinação a Meca. Morreu em Ramalá, após sofrer um derrame, sendo enterrado na cidade. Em 1990, a Organização para a Libertação da Palestina concedeu-lhe a Medalha Jerusalém de Cultura, Artes e Literatura.
Conhecido como o “xeque dos historiadores palestinos”, Aref al-Aref legou uma obra monumental à história do povo palestino. Sua atuação combina o engajamento político, o compromisso com a verdade histórica e a luta nacional contra o colonialismo britânico e a ocupação sionista. Seu trabalho segue como referência indispensável para todos que se dedicam à causa da Palestina.