Terrar ocupadas em Monte Carmo antes da retirada das famílias (TO) – Foto: Divulgação / MST Tocantins

Publicado por Brasil de Fato

Na noite de quinta-feira (17), fazendeiros se uniram a policiais militares para retirar 100 famílias de uma parte ainda não regularizada do assentamento Taboca, em Monte do Carmo (TO), de acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Ligadas ao movimento, as famílias denunciaram a violência da ação, com ameaças, intimidações e destruição de bens pessoais.

Embora a regularização das terras esteja pendente, a área já é reconhecida como terra pertencente à União, de acordo com a Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Tocantins.

“Já mandamos uma equipe nossa da cartografia para fazer o levantamento. Esse trabalho foi feito entre março e abril. Com esse levantamento feito, vamos dar continuidade para criar ou reorganizar esse assentamento”, informa Edmundo Rodrigues Costa Superintendente Regional do Incra no estado.

O espaço ocupado pelas famílias do MST tem cerca de 700 hectares e fica dentro do assentamento. Em 2005, quando o Incra deu início à entrega dos lotes, Maria* recebeu sua parcela de terra, onde planta banana, mandioca e cria alguns animais, como porcos, galinha e vacas.

Atualmente, ela vive com medo das ameaças dos fazendeiros que cercam a área. Alguns ruralista alegam ser donos da terra ocupada.

“Lá tá sendo invadido, porque as pessoas chegam e vão invadindo. A gente fica ameaçado. (…) Não vou mentir, não, eu fico com medo”, diz. Os invasores, de acordo com o relato de Maria e de outras pessoas que vivem na região, são fazendeiros interessados em plantar grãos.

Uma investigação do Ministério Público Federal (MPF) aponta que os títulos de terra apresentados pelos fazendeiros contém irregularidades, indicando a prática de grilagem: “(…) As diligências realizadas no referido IC [Inquérito Civil] culminaram no cancelamento do título e da matrícula da área que estava em sobreposição ao imóvel rural, Lote 14, Loteamento Serra do Taquaruçu, destinado para a criação do PA Taboca”, informa o MPF.

 

Área de plantio da soja em Tocantins. Foto: Divulgação.

Imagens de satélite, obtidas pela plataforma MapBiomas, permitem observar que a área é cercada por pasto e, principalmente, plantações de soja.

A partir de 2003, as plantações se alastraram no território, aumentando em 185 vezes. De cerca de 226 hectares cultivados naquele ano, a monocultura saltou para 42 mil hectares em 2023. Isso representa um crescimento de 18.849% das plantações em 20 anos. A monocultura se concentra na parte oeste do município, onde fica o assentamento.

“É só soja que eles plantam (…) Eles jogam veneno de avião”, relata Maria. Ela conta que as plantações ficam perto da área de cultivo dos assentados, que temem pela saúde de suas lavouras.

Horas depois da retirada violenta de família da área ocupada no assentamento Taboca, representantes da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Tocantins (Aprosoja-TO) publicaram nos stories no Instagram uma nota de agradecimento à Polícia Militar (PM). A nota não menciona o nome da área, nem da fazenda.

“Expressamos nossos sinceros agradecimentos às forças de segurança e toda equipe de Policiais que, de forma célere e eficaz, atenderam prontamente ao pedido de retirada de invasores de terra na fazenda onde associados da Aprosoja Tocantins desenvolvem suas atividades produtivas”, informa o texto. A nota foi publicada nos stories da presidente da Aprosoja-TO, Caroline Barcellos; e da diretora financeira da associação, Flávia Germendorff.

Os agradecimentos são direcionados aos policiais do 6º e do 13º batalhão da PM do Tocantins. O governador do estado, Wanderlei Barbosa (Republicanos) também é citado.

Barbosa é representante do setor ruralista. De acordo com a declaração de bens apresentada em Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o governador é dono de duas fazendas e de um rebanho bovino avaliado em R$ 740 mil, cuja quantidade de animais não está especificada.

O Brasil de Fato entrou em contato com a Aprosoja-TO, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.

*Maria é um nome fictício. A agricultora pede para ter a identidade mantida em sigilo.

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Last Update: 19/04/2025