Em 2015, Arctic Monkeys vinha consolidado como, possivelmente a principal banda do rock britânico independente, um dos mais tradicionais dos anos 2000, quando de lá pipocaram bandas como as inglesas Kaiser Chiefs e Kasabian, e as escocesas Franz Ferdinand e The Fratellis. Foi o renascimento do rock britânico, que vinha perdendo tração na cena mundial desde a new wave of british heavy metal dos anos 1980.

Distanciando-se do new metal e do emocore norte-americano, outras vertentes do rock muito populares naqueles tardios 2000s, produziam um som mais técnico e melancólico, com vocais sintetizados com sensação ligeiramente dissonante, guitarras graves e riffs simples, por vezes buscando back vocals num bom estilo música de salão para pontes e refrões. Os temas, sempre, sentimentos introspectivos, ao contrário dos corações dilacerados do emocore ou do ceticismo do new metal.

Favourite Worst Nightmare, o clássico fundador

Arctic Monkeys vinha, nesse contexto, angariando fãs muito mais rapidamente que as outras, mesmo tendo estourado mais tardiamente. Pouco depois de lançarem o debut “Whatever people say I am, that’s what I’m not” (2006), o álbum “Favourite worst nightmare” (2007) tornou-se fenômeno mundial e emplacou dois dos maiores sucessos, não da banda, mas de todo o chamado indie rock, como ficou conhecida a cena.

Uma canção era a progressiva e incrivelmente imersiva “505”, em que o vocalista Alex Turner praticamente de absorve para dentro de uma espiral musical, com uma melodia bela e intencionalmente repetitiva, aliada a uma voz hipnotizante. A outra era o maior clássico da banda, “Flourescent Adolescent”, o oposto de “505”, com uma melodia irreverente, uma enigmática letra sobre amor, versando as desventuras amorosas, em tom de lembrança, de uma pessoa que está presente ali na forma de interlocutor silencioso do letrista.

AM e o ponto da virada

Após manter o feijão com arroz em “Hambug” (2009) e “Suck it and see” (2011), Arctic Monkeys retornou à melhor forma em “AM”. Lançado em 2013, tinha uma capa marcante, com um fundo sólido preto interrompido, apenas, por uma simples linha de ondas de som em tons degradês entre cinca claro e branco. Lembrava muito “Unknown Pleasures” (1979), de Joy Division, também influente sobre o som do disco.

A abertura do disco é o seu tesouro: “Do you wanna know?” é uma faixa perfeita para abertura, sendo um convite sedutor à proposta do álbum, claramente descrita, que leva o ouvinte a uma atmosfera mais contemplativa que a anteriormente trabalhada pela banda, sempre de uma agitação quase adolescente, inclusive no título de sua principal canção até o momento. Em “AM”, a banda vai longe disso, por vezes decepcionando os fãs mais raízes do rock, afastando de vez a turma do heavy metal que ainda creditava méritos e tempo à banda, e abrindo caminho para a inserção agênera que a banda escolheria pelos próximos anos.

“Do you wanna know” lembra “505”, mas afasta-se na medida em que apela mais para uma sensualidade soturna, como que levando o ouvinte para o baixo meretrício de uma Nova York dos anos 1920, um cenário bem retratado em “O brutalista” (2024), filme de Brady Corbet. O álbum oscila entre situações baixo-mundanas, ora colocando o ouvinte como se caminhasse em meio, talvez, a um cenário de Taxi Driver (1976), filme de Martin Scorcese.

O outro sucesso do álbum é “I wanna be yours”, faixa de encerramento, que existe tão sem o peso e a marcha do rock’n’roll que, possivelmente de forma não planejada, seria a porta de entrada de Arctic Monkeys para um novo conceito como banda. Atualmente, é a música mais ouvida nos perfis da banda em streamers musicais. Isso sem ter nada do flerte com a genialidade que a banda demonstrou em “Favourite worst nightmare”. Uma canção de amor, praticamente declamada, que, com adaptações, poderia estar em qualquer hip-hop americano, desde que melodicamente um pouco mais dura.

Os sinos do sucesso

Formato atual: estrutura de banda de rock, som impreciso e formatado para plataformas de streamer

Arctic Monkeys, ao testar um álbum mais palatável que seu rock experimental dos anos 2000, na metade da década seguinte, percebeu o potencial de um álbum que, como rock’n’roll, ficava muito aquém do seu início de carreira, mas jogaria a banda no colo das paradas de sucesso nos aplicativos de streamer. Estes que, àquela altura, já cumpriam o papel que antes era da lista de 10 mais da Billboard, ou os discos de ouro e de platina, cobiçados os três por qualquer músico que almejasse sucesso artístico. O território dos streamers, diferentemente até das rádios e listas de discos vendidos, que reinaram até os anos 1990, premia, via algorítmo, quem consegue ser amplo o mais possível. Portanto, bandas que produzem sons não identificados com um gênero específico, tendem ao crescimento. Paramore, do emocore, Bring Me The Horizon, do metalcore, e LiSA, do J-Rock, também já seguiram a trilha dos caminhos dourados de Spotify, Deezer, Youtube Music etc.

Com “Tranquility Base Hotel & Casino” (2018) e “The car” (2022) a banda já está completamente imersa no mercado pop, com raras incursões que recuperam o que foi seu som nos primeiros quatro álbuns.

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Last Update: 27/06/2025