O padre Júlio Lancelotti foi proibido de transmitir suas missas na internet e terá que se afastar das redes sociais por determinação do bispo Dom Odilo Scherer, arcebispo ligado à Arquidiocese de São Paulo. A proibição foi oficializada na última quarta-feira 10 em uma carta direcionada ao pároco. Os fiéis foram avisados do fim das lives neste domingo 14.
“Até que haja ordem em contrário, a partir do domingo que vem, a missa será só presencial, não terá mais transmissão”, anunciou Lancelotti durante a celebração. “Agradeço imensamente a todos que acompanham, a todos que fazem chegar essas imagens a tantos lugares”, completou o padre.
Durante a missa, ele não comentou sobre a proibição do uso das redes sociais. Os perfis oficiais, que costumam ser atualizados com frequência, porém, não têm novas publicações desde a última quinta-feira 11. Em nota encaminhada a CartaCapital, o padre confirma que suas redes não serão movimentadas em um “período de recolhimento temporário”.
A Arquidiocese de São Paulo foi procurada pela reportagem para esclarecimentos sobre as proibições, mas não retornou até o fechamento deste texto.
Rumores de transferência
Desde domingo, passou a circular também rumores de que Lancellotti poderá ser transferido da Paróquia São Miguel Arcanjo, localizada na Mooca, zona leste da capital, onde o pároco atua há 40 anos com o trabalho da Pastoral de Rua, direcionado à assistência de pessoas em vulnerabilidade. A mudança, segundo estas versões, constaria na mesma carta que vetou o uso das redes e as transmissões. Não há, porém, qualquer confirmação da Arquidiocese sobre a transferência. O padre, também em nota, nega o boato e diz que seguirá na Paróquia. “Não procede a informação sobre a transferência”, diz o comunicado que reafirma sua “pertença e obediência à Arquidiocese de São Paulo”.
Repercussão
As medidas contra a atuação do padre repercutiram negativamente nas redes, sobretudo entre políticos progressistas, que manifestam apoio ao trabalho do pároco. Lancellotti, convém lembrar, é alvo frequente de ataques da extrema-direita.
Nas redes sociais, a deputada estadual Mônica Seixas (PSOL-SP) criticou a ordem da Arquidiocese, que chamou de ‘absurda’. “Calar quem defende os pobres é escolher um lado”, escreveu. O deputado estadual Paulo Fiorilo (PT) também disse receber a notícia com espanto e tristeza. “O impacto social é enorme”, publicou.
No âmbito federal, os deputados Pastor Henrique Vieira e Fernanda Melchionna (ambos do PSOL) também se manifestaram em defesa de Lancellotti. “Sua atuação pastoral sempre foi pública, transparente e comprometida com os mais pobres. Que o diálogo e o amor prevaleçam!”, disse o deputado. “Dom Odilo, responsável pela decisão, afirma que a medida seria para sua segurança. Enquanto tantos têm liberdade para propagar o ódio e o mal, Júlio, que dedica sua vida a falar de cuidado, justiça e dignidade, é silenciado”.