O presidente da Bolívia, Luís Arce, anunciou a nomeação de três novos chefes para as Forças Armadas após uma tentativa de golpe de Estado que abalou o país nesta quarta-feira (26). A mudança na liderança militar foi seguida pela retirada dos militares que haviam invadido o Palácio Quemado, sede do governo, em La Paz. Cercado de soldados fiéis ao governo, o presidente debelou a tentativa de golpe de estado, após confrontar pessoalmente o comandante do Exército.
Foram quatro horas de tensão, em que tanques do Exército e militares armados chegaram a invadir o palácio presidencial, em La Paz, a antiga sede do governo que ainda funciona para atos protocolares. Antes foram vistos agrupados em praças e ruas da capital.
A tentativa de golpe teria sido arquitetada pelo general Juan José Zuñiga, afastado do cargo de comandante do Exército após fazer ameaças ao ex-presidente Evo Morales. Ele afirmou na segunda-feira (24) que prenderia Morales caso o ex-presidente volte ao poder. A Procuradoria-geral da Bolívia anunciou que abriu uma investigação penal contra Zuñiga e os militares que participaram da tentativa de golpe.
A Suprema Corte da Bolívia também condenou a tentativa de golpe e pediu à comunidade internacional que se mantenha “vigilante em apoio à democracia na Bolívia”.
Os novos chefes militares nomeados por Arce são:
- José Wilson Sánchez Velasquez, no Exército
- Gerardo Zabala Alvarez, na Aeronáutica
- Renán Guardia Ramírez, na Marinha
A situação na Bolívia permanece tensa, mas a nomeação dos novos chefes das Forças Armadas e a retirada das tropas do Palácio Quemado marcam um passo importante na restauração da ordem e da democracia no país.
O noticiário informou que os militares, que haviam se posicionado com tanques em frente à sede presidencial e tentaram invadir o edifício, recuaram após o anúncio das novas nomeações. As tropas, sob o comando do ex-chefe do Exército Juan José Zúñiga, deixaram a Plaza de Armas após várias horas de mobilização, que foi classificada pelo presidente Luís Arce como uma tentativa de golpe de Estado.
“Saudamos a polícia que se manteve firme com a Constituição”, declarou Arce. O vice-presidente da Bolívia, David Choquehuanca, também se manifestou: “Queremos cumprimentar a valentia de todos que se levantaram contra essa tentativa de golpe de Estado”.
Movimentações anormais
Desde a manhã desta quarta-feira, militares bolivianos realizaram movimentações consideradas anormais. Tanques e tropas foram colocados em frente à sede do governo em La Paz, e membros do Exército entraram no Palácio Quemado. Vídeos do local mostram policiais militares fardados usando escudos para fechar o local e impedir a entrada de outras pessoas na praça Murillo, onde fica o prédio do governo. Um blindado foi utilizado para arrombar as portas, e bombas de efeito moral foram usadas contra manifestantes.
Juan José Zúñiga, destituído do cargo de comandante do Exército na terça-feira (25), declarou à imprensa em frente ao Palácio Quemado que “vai trocar os ministros” e que “o país não pode continuar assim”. Zúñiga também prometeu liberar todos os que chamou de “presos políticos” e criticou figuras antigas da política boliviana, como o ex-presidente Evo Morales.
La Paz/Bolivia – 26/06/2024 – Militares com blindados invadem o Palacio Presidencial durante tentativa de golpe ao Governo do Presidente Luís Arce. Foto: RS via Fotos Publicas
Reações às movimentações
Luis Arce utilizou suas redes sociais para denunciar as movimentações irregulares das unidades do Exército Boliviano: “Denunciamos mobilizações irregulares de algumas unidades do Exército Boliviano. A democracia deve ser respeitada”, escreveu o presidente.
O ex-presidente Evo Morales convocou uma mobilização nacional para defender a democracia: “Convocamos uma Mobilização Nacional para defender a Democracia frente ao golpe de Estado que é gestado e liderado pelo general Juan José Zúñiga, comandante do Exército”, afirmou Morales em suas redes sociais.
Turbulências na Bolívia
Nos últimos cinco anos, a Bolívia enfrentou várias turbulências políticas:
- 2019: O terceiro mandato de Evo Morales foi interrompido por um golpe de estado após protestos de setores da classe média e empresariais. Morales havia sido eleito para um quarto mandato, mas renunciou e deixou o país.
- Após 2019: Jeanine Áñez Chávez se autoproclamou presidente interina. Em 2021, ela e apoiadores do golpe, incluindo o ex-comandante do Exército Jorge Pastor Mendieta Ferrufino, foram presos.
- Relação Arce e Morales: Arce e Morales, antes aliados, tornaram-se adversários devido às eleições presidenciais de 2025, com Morales sendo o candidato do MAS. Arce foi afastado da legenda por não participar do congresso do partido.
- 2008: Houve uma tentativa de golpe, mas fracassou. O governo denunciou um “golpe civil” pela oposição conservadora do Departamento de Santa Cruz, mas não decretou estado de sítio.