Facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), além de líderes do jogo do bicho, estão disputando fatias do mercado de apostas esportivas, conhecidas como “bets”.
Investigações policiais em estados como Rio de Janeiro, Ceará e Rondônia revelam o uso dessas apostas online para lavar dinheiro e maximizar lucros de atividades ilícitas.
Regulamentação das “bets”
Em 2023, o Congresso aprovou uma legislação que prevê a taxação e regulamentação das apostas esportivas online. Sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), essa lei busca coibir a entrada de dinheiro ilícito. Entretanto, as investigações apontam que o mercado de apostas se tornou atrativo para o crime, com várias organizações criminosas se envolvendo no setor.
Em abril, a Polícia Federal (PF) prendeu dois parentes de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, em uma operação no Ceará. Leonardo Alexsander Ribeiro Herbas Camacho, sobrinho de Marcola, divulgava anúncios da plataforma de apostas Fourbet em suas redes sociais. Na casa de Francisca Alves da Silva, cunhada de Marcola, a PF encontrou um recibo de transferência bancária e um bilhete com alusões a Menesclau de Araújo Souza, apontado como contador do PCC no Ceará.
A ligação entre as bets e o PCC foi reforçada após a PF encontrar Leonardo no carro de Henrique Abraão Gonçalves da Silva, filho de uma das gestoras da Loteria Fort. Henrique se apresentou como responsável pela Fourbet no Mato Grosso do Sul. Segundo a PF, há indícios robustos de lavagem de dinheiro através dessas plataformas de apostas, com mais de R$ 301 milhões movimentados nas contas de mais de 20 investigados.
O sociólogo Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da UFF, avalia que as apostas online são uma “nova fronteira” para grupos criminosos. Ele explica que esses grupos preferem mercados com regulamentação e fiscalização fracas, onde podem entrar com apostas de valores relativamente pequenos, mas com uma grande rede de atuação, tornando-se lucrativas por si mesmas.
No Ceará, o PCC enfrenta concorrência do CV pelo controle de casas de apostas. Em 2021, chefes do CV proibiram empresas como a Loteria Fort e a Fourbet de operar em suas áreas de influência. Segundo o Ministério Público estadual, essa desavença resultou em incêndios em casas de apostas no estado. Mensagens de Douglas Honorato Alves, responsável pelos negócios do CV no Ceará, instruíam seus comparsas a impedir o funcionamento de casas não aliadas à Loteria do Povo.
No Rio de Janeiro, líderes do jogo do bicho e das máquinas caça-níquel, como Rogério Andrade, também expandiram para as bets. Em 2020, Andrade estava envolvido na criação de um site de apostas fora do país, conforme e-mails encontrados pelo Ministério Público. Quando Andrade foi preso em 2022, agentes apreenderam um bilhete mencionando a plataforma “Heads Bet”, que opera a partir de Curaçao.