A Alemanha consolidou, como já previsto na maioria das pesquisas de opinião, uma verdadeira guinada à direita segundo as estimativas oficiais divulgadas neste domingo 23 após as eleições gerais nesta que é a maior economia do bloco europeu.

A coalização dos conservadores, formada pelos partidos União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), levou a maior fatia do bolo, com cerca de 28,6% dos votos. A sigla Alternativa para a Alemanha (AfD), plesbicitada nas urnas com 20,8% dos votos, um recorde para um partido de extrema-direita depois da Segunda Guerra Mundial, tornou-se a segunda força política no Parlamento, mas fica restrita à oposição.

O conservador Friedrich Merz, líder da aliança de direita, já inicia negociações para formar uma coalizão de governo, que promete anunciar “no mais tardar” até a Páscoa, em 20 de abril.

No domingo 23, a maior parte dos cerca de 60 milhões de eleitores alemães registrados compareceram em peso às urnas, consolidando uma participação já considerada histórica de 84%, a maior desde a reunificação do país, há 35 anos, uma afluência bem mais significativa que em 2021, que chegou na época a 76,6%.

Após a divulgação dos resultados parciais depois que as urnas foram fechadas, às 18h do domingo, um debate na televisão alemã reuniu os líderes das principais siglas que hoje dominam o Parlamento, quando a chefe do partido de extrema direita AfD, Alice Weidel, disse estar “pronta” para formar uma coalizão com os conservadores.

Visivelmente irritado, o líder dos conservadores da coalizão CDU/CSU, Friedrich Merz, rebateu dizendo que nunca seu partido faria “aliança” com uma “suposta Alternativa para a Alemanha”, fazendo menção à sigla AfD, confirmando declarações anteriores que fortalecem o “cordão sanitário” dos partidos alemães contra a extrema-direita.

Maioria até a Páscoa

Apesar dos resultados que confirmam uma vitória dos conservadores, muitas negociações devem acontecer antes que o país possa anunciar um novo governo. Mesmo se o nome de Friedrich Merz, líder dos conservadores, já apareça como provável novo chanceler, muitas dúvidas pairam sobre as negociações com as siglas que comporão as novas cores desse espectro político, entre os 630 assentos do Bundestag, o parlamento alemão.

Vale lembrar que uma reforma do direito eleitoral na Alemanha foi aprovada em março de 2023, ainda sob a tutela do social-democrata Olaf Scholz, que limita o número de deputados a 630. Antes, como o voto na Alemanha é proporcional, resultado de uma equação complicada entre os votos distritais e as siglas nacionais, não havia limite para o número de parlamentares.

Scholz segue comandando o país mais populoso e a maior economia do bloco, num governo “técnico”, até que um contrato de coalização de governo seja anunciado entre as siglas para a formação de uma possível maioria de governo, e que um novo chanceler possa ser votado pelo Bundestag.

O delicado jogo do poder na Alemanha

Segundo Gerd Harders, cientista político da Universidade Livre de Berlim, a resposta desse enigma pode morar na resposta a outras questões, como a entrada ou não dos liberais da sigla FDP no Parlamento, uma vez que sua votação de 4,9% não alcançou até o momento os 5% necessários para marcar presença no Bundestag.

Ele explica que caso a FDP fique de fora, a tendência é que uma maioria seja formada entre os dois partidos clássicos da política alemã, ou seja, os conservadores da coalizão CDU/CSU e os sociais-democratas do SPD, comandado pelo atual chanceler Olaf Scholz, mesmo que ele tenha sofrido uma grande derrota nas urnas no domingo, com cerca de 16% dos votos e uma queda de quase 10 pontos em relação a 2021.

Caso os liberais consigam um assento no Parlamento, o equilibro do jogo político deve ficar mais complicado, consolidando a fragmentação política da Alemanha, e outros compromissos podem ser formados com siglas que antes haviam anunciado que não participariam do governo, como o Partido Verde que conquistou cerca de 12% dos votos no domingo, e cujo líder, Robert Habeck, chegou a acenar para Merz, do bloco conservador, abrindo portas durante o debate depois das eleições a “possíveis conversas”, algo inédito para os verdes até então.

A surpresa da esquerda

Mas uma surpresa vinda da esquerda, no entanto, também deu as caras no domingo na Alemanha. O partido da extrela0esquerda alemã, como o próprio nome diz, Die Linke, conquistou uma votação importante de cerca de 8,6%, consolidando de maneira irreversível sua presença no novo parlamento alemão.

O feito foi comemorado intensamente no domingo em Berlim, onde os números mostram um provável e inesperado strike do Die Linke, superando até os conservadores em diversos distrito da capital. Especialistas apontam para uma verdadeira debandada de eleitores desiludidos do Partido Verde para a oposição assumida e combativa do Die Linke, que defende abertamente pessoas indocumentadas, os direitos de imigrantes e minorias, a necessidade de medidas urgentes contra as mudanças climáticas e a taxação dos mais ricos, e até uma defesa inédita dos palestinos em Gaza, tema que é tabu na Alemanha, historicamente parceira do Estado de Israel.

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Last Update: 24/02/2025