Presidente dos EUA deu início, neste fim de semana, à guerra comercial contra China, México e Canadá. Claudia Sheinbaum adverte que tarifaço vai prejudicar ambos os países. Especialista prevê aumento da inflação americana
O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, resolveu escalar, neste fim de semana, a prometida guerra tarifária contra o mundo. O republicano começou taxando os três principais parceiros comerciais do país governado por ele: Canadá, México e China. E ainda sinalizou que as exportações europeias seriam o próximo alvo do tarifaço. Diante do cenário de turbulência econômica anunciada e da possibilidade de o Brasil ser igualmente atingido pela política comercial de Trump, o Itamaraty acompanha de perto as decisões de Washington.
As medidas do oligarca republicano passam a valer a partir desta terça-feira (4). Ele impôs encargos de 10% à China e de 25% ao México e ao Canadá. Em resposta, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou 25% de tarifa sobre os produtos estadunidenses. Trudeau acusou a Casa Branca de violar os acordos firmados na Organização Mundial de Comércio (OMC) e disse que “se Trump quiser inaugurar uma nova ‘era de ouro’ para os EUA, o melhor caminho é fazer parceria com o Canadá, não nos punir”.
A presidenta mexicana, Claudia Sheinbaum, advertiu que o tarifaço vai prejudicar ambos os países. “Isso aumentará significativamente os custos de todos os produtos exportados do México para os EUA. Os produtos ficarão 25% mais caros de acordo com essas novas medidas adotadas pelo governo americano”, lamentou Sheinbaum, em publicação no X.
Rechazamos categóricamente la calumnia que hace la Casa Blanca al Gobierno de México de tener alianzas con organizaciones criminales, así como cualquier intención injerencista en nuestro territorio.
Si en algún lugar existe tal alianza es en las armerías de los Estados Unidos…
— Claudia Sheinbaum Pardo (@Claudiashein) February 2, 2025
A China prometeu levar o caso à arbitragem da OMC. O governo de Pequim afirmou que a guerra tarifária de Trump “interrompe o comércio normal” entre as economias. Por outro lado, o gigante asiático também decidiu zerar as tarifas incidentes sobre os produtos provenientes de países do Sul Global.
Em profunda crise econômica e política, a Alemanha, por sua vez, maior economia da Europa há até pouco tempo, será diretamente afetada pelas tarifas impostas ao México e teme que Trump adote taxas adicionais contra a União Europeia (UE).
O chanceler alemão, o social-democrata Olaf Scholz, cujo governo se aproxima do fim, preferiu tom de moderação e de cooperação em relação à guerra tarifária desejada pelos EUA, mas avisou que o bloco detém “âmbito de ação” enquanto potência econômica, com capacidade de retaliação, se assim julgar pertinente.
A chefe de Política Exterior da UE, Kaja Kallas, foi categórica: “Não há vencedores em guerras comerciais”.
Inflação nos EUA
Além de tumultuar a economia global visando enfraquecer a China, autoridades e especialistas argumentam que o tarifaço de Trump deve agravar a inflação nos EUA, um dos motivos centrais que levaram a democrata Kamala Harris a amargar a derrota nas eleições presidenciais. A estratégia do republicano de tentar remodelar as cadeias globais de suprimentos pode representar um tiro no pé.
O economista marxista Richard D. Wolff, professor emérito da Universidade de Massachusetts Amherst, esclareceu, há cerca de dois meses, quem seria prejudicado, ao fim e ao cabo, pelo tarifaço de Trump. Wolff tem feito previsões sombrias para a economia dos EUA nos próximos anos, sempre com duras críticas ao negacionismo estadunidense em relação à ascensão chinesa.
“Aqui está a ironia: [a guerra tarifária] fará a inflação neste país sair do controle e é por isso que ele [Trump] não pode fazê-lo, o preço de tudo vai subir. Quer dizer, pela manhã, você vai tomar um café, que é produzido no exterior, nós não plantamos café em quantidades suficientes neste país, tem que ser importado. Daí, você coloca açúcar nele, que também tem que ser importado. Preparem-se para lattes de U$ 25 pela manhã”, ironiza Wolff.
O advogado Robert Lighthizer, representante de Comércio de Trump durante o primeiro mandato do republicano, falou sobre o início da guerra tarifária ao programa 60 Minutes, em entrevista veiculada neste domingo (3). Lighthizer admitiu abertamente o que Washington tem tentado esconder ao longo dos últimos anos: a China é uma “ameaça existencial” para os EUA e elevar tarifas é a única forma de conter seu poderio comercial. “Ela é um adversário muito, muito competente”, definiu o conselheiro.
Brasil na mira de Trump
Trump taxou em 10% os produtos chineses, mas ameaçou com 100% de encargo os países do Brics, caso o bloco decida levar adiante a criação de uma moeda alternativa ao dólar, o que acendeu o alerta do governo federal. Em coletiva à imprensa, na semana passada, o presidente Lula sinalizou que o Brasil poderia agir com “reciprocidade”, caso seja lesado pelos EUA. “É muito simples: se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade”, resumiu.
Fora as preocupações comerciais e tarifárias, há questões referentes à soberania nacional que são de interesse estrito do governo Lula. Trump manifestou o desejo de anexar o Canadá, a Groenlândia e de rebatizar o Golfo do México para “Golfo da América”, antes mesmo de anunciar as tarifas.
No primeiro dia de mandato, o republicano assinou decreto presidencial que classifica cartéis e organizações criminosas transnacionais como terroristas globais, abrindo caminho para a aplicação de sanções contra o Brasil e o México. O presidente estadunidense acusou o governo mexicano de manter ligações com o crime organizado e com o tráfico de drogas.
“Trump está se aproveitando dessa ambiguidade para extrapolar essa classificação e incluir criminosos comuns como terroristas. O decreto não especifica critérios claros para determinar quais organizações serão enquadradas dessa forma, o que torna a medida ainda mais perigosa. Isso pode ser usado para justificar pressões financeiras, sanções e até mesmo ações contra países da América Latina”, apontou o consultor jurídico Tarcísio Dalmaso, ao site UOL.
Recentemente, durante programa matinal do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), o jornalista investigativo Leandro Demori, um dos envolvidos na divulgação do escândalo da “Vaza Jato”, alertou para a possibilidade de haver uma nova Operação Lava Jato no Brasil. Dessa vez, desconfia Demori, as big techs poderiam lançar mão de dossiês contra altos membros do Judiciário, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ou até mesmo contra Lula.
PTNacional, com Deutsche Welle, 60 Minutes, UOL, O Globo