O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (10) que o Brics continuará discutindo mecanismos para reduzir a dependência do dólar nas trocas comerciais entre os países do bloco. 

A declaração foi feita em entrevistas à TV Record e ao Jornal Nacional, um dia após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados. 

Segundo Lula, o incômodo de Washington está ligado ao avanço do protagonismo do Sul Global.

“Por que eu sou obrigado a ficar lastreado pelo dólar, que eu não controlo? Quem tem a máquina de produzir dólar são os Estados Unidos, não nós”, disse o presidente. 

“Nós queremos ter independência nas nossas políticas, queremos fazer comércio mais livre. A gente pode fazer nas nossas moedas”, completou.

Em tom firme, Lula sublinhou que o Brasil buscará o caminho da negociação, mas não aceitará intimidações. “Nós não queremos brigar com ninguém. Nós queremos negociar. O que nós queremos é que sejam respeitadas as decisões brasileiras”, disse

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Brics articula saída gradual da dependência do dólar e fortalece autonomia

A proposta de uma alternativa monetária está no centro das discussões do Brics desde sua ampliação, em agosto de 2023, e do fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento, presidido por Dilma Rousseff. 

“O Brics é um fórum que ocupa metade da população mundial e quase 30% do PIB mundial. Nós cansamos de ser subordinados ao Norte”, afirmou. “O que ele [Trump] não pode é agir como se fosse dono dos outros.”

A reação de Trump, segundo ele, escancara o incômodo com esse novo arranjo multipolar.

Ao reforçar que o Brasil defende soluções multilateralistas, Lula afirmou que divergências devem ser debatidas em fóruns como o G20 — e não por meio de ameaças ou ataques à soberania dos países. 

“Se ele tivesse divergência, o correto seria numa reunião do G20 ele levantar o problema. Vamos fazer uma discussão civilizada. Nos convença. Vamos discutir.”

“Não aceitamos desaforo”: soberania e reação à chantagem tarifária

O presidente brasileiro classificou como desrespeitosa a carta publicada por Trump em seu site, em que o republicano ameaçou o Brasil e atacou o sistema de Justiça. 

Lula afirmou que não recebeu nenhuma correspondência oficial e que a retórica norte americana não condiz com relações diplomáticas entre chefes de Estado.

“Ele publicou no site dele, numa total falta de respeito, que é um comportamento dele com todo mundo. E eu não sou obrigado a aceitar esse comportamento desrespeitoso”, disse. 

“Um presidente não é dono da verdade. Um presidente não tem relação ideológica com o outro.” Lula reiterou que a resposta brasileira será coordenada entre governo, empresários e o Itamaraty. 

Entre as medidas em análise, estão a aplicação da Lei da Reciprocidade, consultas à Organização Mundial do Comércio (OMC) e a busca por novos parceiros comerciais. “Se ele vai cobrar 50 de nós, nós vamos cobrar 50 dele. Mas primeiro vamos tentar negociar”, afirmou.

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Brasil buscará novos mercados e se articula com outros países taxados

Além da reação institucional, o governo organizará uma comissão com representantes do setor produtivo para discutir impactos e alternativas ao mercado norte-americano. 

Lula também reforçou o compromisso com a diversificação de parceiros internacionais e citou sua participação no próximo encontro da ASEAN, bloco que reúne dez países asiáticos.

“O comércio entre o Brasil e os Estados Unidos tem apenas 1,7% do PIB. Não é essa coisa que a gente não pode sobreviver sem os Estados Unidos. Se os Estados Unidos não querem comprar, nós vamos procurar quem quer comprar”, disse. 

“Eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros.”

Para Lula, a tentativa de Trump de desestabilizar o Brasil está ligada também ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e ao incômodo com a autonomia da Justiça brasileira. “Se o Trump tivesse feito no Brasil o que fez no Capitólio, ele também estaria sendo julgado”, afirmou. “Aqui, a lei é para todos. De verdade. Doa a quem doer.”

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Last Update: 11/07/2025