Questionado sobre um possível distanciamento do Brasil em relação ao governo de Donald Trump, o chanceler Mauro Vieira disse nesta quarta-feira 28 que acionou Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, para tratar do tema.
A declaração ocorreu na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, à qual Vieira prestou esclarecimentos sobre os rumos da diplomacia brasileira.
O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) sugeriu que o ministro não conseguia estabelecer contato com o colega dos EUA. Vieira, então, detalhou sua relação com Rubio e disse ter enviado uma “correspondência formal” sugerindo encontros e tratativas logo após a nomeação do auxiliar de Trump.
O ministro admitiu, porém, que não houve uma resposta formal de Washington. “A correspondência chegou ao gabinete dele, mas não recebi retorno nem fui convidado para conversas. Ainda assim, deixei clara minha disponibilidade. Isso não significa, entretanto, que as comunicações entre Brasília e Washington estejam interrompidas — muito pelo contrário, seguimos com múltiplos canais de diálogo.”
O questionamento aconteceu quando Vieira foi confrontado sobre o anúncio da administração Trump de possíveis restrições a vistos para autoridades estrangeiras que supostamente apoiam a censura contra cidadãos norte-americanos.
Rubio não divulgou uma lista específica de alvos, mas já sinalizou haver chances de punir o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
“Gostaria de relembrar as palavras que proferi, quando citei o Barão do Rio Branco, enfatizando que o Brasil não cultiva alianças nem parcerias incondicionais. O que prevalece sempre é o interesse nacional, que ocupa posição prioritária”, declarou Mauro Vieira.
Soberania sobre vistos
Vieira foi questionado pelo deputado Filipe Barros (PL-PR) sobre possíveis retaliações envolvendo a concessão de vistos. O chanceler defendeu a soberania nacional.
“Cada Estado detém autonomia total para decidir sobre concessão ou negativa de vistos. São incontáveis os casos de brasileiros que têm pedidos rejeitados. Para vistos oficiais, é necessária concordância mútua para encontros bilaterais. Cada situação tem suas particularidades”, afirmou.
“Para participação em reuniões de entidades como ONU e OEA, os acordos de sede obrigam o país anfitrião a conceder acesso. Portanto, isso não será problema. Já a concessão de vistos em geral permanece sendo prerrogativa exclusiva do país emissor.”
As relações com Washington podem ficar mais tensas diante da postura intransigente da diplomacia norte-americana. Dando vazão à abordagem aplicada por Trump desde que retornou à Casa Branca, Rubio indicou que estrangeiros que atentem contra a liberdade de expressão dos EUA “não devem ter o privilégio de viajar” ao país.