Após quatro décadas, PKK anuncia cessar-fogo com a Turquia

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) anunciou um cessar-fogo imediato no último sábado (1º), conforme divulgado pela agência de notícias Firat, ligada ao grupo. A medida ocorre após um apelo de Abdullah Öcalan, líder do PKK que está preso desde 1999. Ele pediu a dissolução da organização e a deposição das armas, uma solicitação que foi bem recebida tanto pelo governo de Recep Tayyip Erdogan, quanto pelo partido pró-curdo DEM.

O anúncio representa um marco no conflito que se estende por quatro décadas entre o PKK e o Estado turco. Desde o início da insurgência em 1984, o embate já resultou em mais de 40 mil mortos, com o PKK operando principalmente a partir de bases nas montanhas do norte do Iraque.

A organização condicionou a implementação plena do desarmamento à criação de um ambiente político mais favorável e à libertação de Öcalan para que ele possa supervisionar o processo. “Para pavimentar o caminho para a implementação do chamado do líder Apo [Öcalan] por paz e uma sociedade democrática, estamos declarando um cessar-fogo a partir de hoje”, declarou o PKK. O grupo afirmou que interromperá todas as hostilidades imediatamente, salvo em caso de ataque.

O DEM, por sua vez, provocou o governo turco a adotar medidas para beneficiar o PKK, mas Erdogan reafirmou que não há qualquer possibilidade de negociação com a organização pró-imperialista. Ancara exige o desarmamento total dos grupos curdos armados, incluindo aqueles atuantes na Síria e no Iraque, antes de considerar qualquer mudança na política de segurança nacional.

Embora o apelo de Öcalan tenha sido visto como um avanço, as chamadas Forças Democráticas Sírias (FDS), que contam com apoio dos Estados Unidos e são consideradas por Ancara uma extensão do PKK, deixaram claro que a iniciativa não se aplica a elas. O governo turco tem reiterado que a desmobilização dessas milícias é uma prioridade, sob ameaça de intervenção militar.

A decisão do PKK foi bem recebida por diversas potências imperialistas, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, além de países vizinhos como Iraque e Irã. O pedido de Öcalan, segundo informações, teria sido motivado por uma proposta inesperada de um aliado ultranacionalista de Erdogan feita em outubro passado.

Pressão sobre a Turquia

O anúncio do cessar-fogo ocorre em um momento de intensa pressão sobre a Turquia. O presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, explica a realidade do país e o problema da questão curda:

“O problema da Turquia é complexo. É um país em que a estabilidade política é muito precária. A pressão sobre a Turquia é gigantesca. O imperialismo pressiona por causa da posição estratégica do país. São vizinhos dos russos, têm o controle do acesso ao Mar Negro, o que é uma vantagem e um problema. Os vizinhos também são um problema, como a Síria e ‘Israel’.

Alguns falam que Erdogan é um sultão que quer a grande Turquia. Mas isso não é uma política ofensiva, é uma política defensiva — uma ‘fuga para a frente’. Eles precisam atuar na política regional para sobreviver. A Turquia tem uma economia fraca, um grande número de tropas, mas não tem armas nucleares.

Os problemas da Turquia são muito grandes. Se eles não tomarem cuidado, o país pode ser destruído totalmente. Veja o caso dos curdos: eles precisam resolver essa questão. Estão em uma situação sem nenhum conforto. Se a Rússia está numa situação difícil, imagine a Turquia. O Azerbaijão, que é seu grande aliado, também está em uma posição complicada.

É preciso separar a retórica ‘neo-otomana’ da Turquia da realidade. A realidade é que o país é fraco e está colocado no olho do furacão. Tudo é problema, basta olhar o mapa.”

A insurgência curda, longe de ser um movimento independente, tem sido historicamente usada pelo imperialismo para desestabilizar a Turquia e outros países da região, como o Iraque e a Síria. O PKK, financiado e treinado por potências imperialistas, tem servido como um instrumento para minar a soberania turca e criar instabilidade regional. O apoio dos EUA às milícias curdas na Síria, por exemplo, é uma demonstração clara dessa política.

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