Os países do BRICS reforçaram nesta terça-feira (29) seu compromisso com a reforma das instituições de governança global e com a construção de uma nova arquitetura de comércio internacional baseada na inclusão, na solidariedade e na multipolaridade. A defesa de um sistema mais justo e representativo marca a primeira Reunião de Chanceleres após a ampliação do bloco, realizada no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro.

Durante os dois dias de encontro, os chanceleres discutiram formas de enfrentar o domínio das potências ocidentais e de fortalecer o papel do Sul Global nas instâncias multilaterais. A Declaração da Presidência Brasileira, com 62 parágrafos, sintetiza esse esforço político e servirá de base para a Cúpula de Chefes de Estado e Governo que acontecerá em julho, também na capital fluminense.

“Acreditamos que os desafios globais — da fome à transição energética, da exclusão digital à crise climática — não serão superados sem uma nova governança internacional centrada no desenvolvimento, na paz e na cooperação”, afirmou o chanceler Mauro Vieira, que coordenou a reunião.

A declaração destaca a necessidade urgente de reformar instituições como o Conselho de Segurança da ONU, o FMI e o Banco Mundial, para refletirem os interesses dos países em desenvolvimento. Também foram abordadas questões ligadas ao comércio internacional, com críticas à imposição de sanções unilaterais e à instrumentalização de regras econômicas por países hegemônicos — medidas vistas como expressão do imperialismo econômico liderado pelos Estados Unidos.

A reunião contou com participação integral dos 11 membros do grupo (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã), além de representantes de 9 países parceiros (Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Nigéria), sinalizando o fortalecimento de uma frente global articulada contra a hegemonia ocidental.

Clima e desenvolvimento sustentável

Outro ponto central do encontro foi o compromisso dos BRICS com a ação climática. O grupo reafirmou sua adesão ao Acordo de Paris e defendeu o fortalecimento da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) como o espaço legítimo para as negociações internacionais sobre o tema.

A Declaração também cobrou dos países desenvolvidos o cumprimento de suas obrigações climáticas e a definição de novas metas de financiamento para apoiar a transição energética nos países em desenvolvimento. O Brasil, como anfitrião da COP30, em novembro, destacou a importância de uma atuação coordenada dos BRICS na conferência.

Novo Banco de Desenvolvimento

O documento celebrou os 10 anos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e defendeu seu fortalecimento como um banco multilateral do século XXI, com foco em infraestrutura e sustentabilidade. Os países confirmaram a recondução da brasileira Dilma Rousseff à presidência do NDB por mais cinco anos.

Participação social

A reunião também avançou no eixo People-to-People, que trata da cooperação entre os povos. Os chanceleres destacaram a importância dos intercâmbios culturais e educacionais e do respeito à diversidade como base para uma integração sólida. Pela primeira vez, representantes da sociedade civil participaram formalmente da reunião de sherpas, apresentando propostas diretamente aos negociadores.

O encontro no Itamaraty confirma o alinhamento estratégico entre os países do BRICS e sua disposição de construir alternativas concretas à ordem internacional vigente, rompendo com estruturas marcadas pelo unilateralismo, pela dependência financeira e pela concentração de poder nas mãos das potências ocidentais.

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Last Update: 03/05/2025