O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, instou os Estados Unidos, neste sábado 15, a não chegarem a um acordo com a Rússia sem o aval de Kiev e de seus aliados da União Europeia, aos quais pediu o fortalecimento de sua unidade para participar das negociações sobre o fim do conflito na Ucrânia.
“Não podem ser tomadas decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, como não podem ser tomadas decisões sobre a Europa sem a Europa. A Europa tem que ter um assento na mesa” dos diálogos, disse Zelensky na Conferência de Segurança de Munique.
A Ucrânia teme ser excluída, assim como a União Europeia, das negociações para pôr fim a quase três anos de guerra. Especialmente depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversou por telefone na quarta-feira com seu par russo, Vladimir Putin, sobre o futuro da ex-república soviética.
Em um discurso neste sábado, Zelensky pediu à Europa para agir “por seu bem” e a ter “suas próprias forças armadas” para se defender da Rússia, enquanto se teme um compromisso militar menor de Washington no continente.
Neste contexto, o presidente francês, Emmanuel Macron, convidou os líderes europeus para uma reunião em Paris na segunda-feira, segundo o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, que indicou que estaria presente no encontro.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, que defende que a Europa assuma o controle de sua própria defesa, também confirmou presença. Os europeus devem demonstrar “relevância” se quiserem ter alguma influência, argumentou ele.
“Garantias de segurança”
Kiev pediu que Washington elaborasse um “plano comum” para enfrentar a Rússia, mas Zelensky observou que ainda não havia uma posição conjunta após a reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, na sexta-feira.
Neste sábado, o presidente ucraniano anunciou que bloqueou um acordo proposto por Trump para permitir que os EUA tivessem acesso a recursos minerais estratégicos, afirmando que, por enquanto, o republicano “não protege” o seu país e que qualquer decisão deve “estar vinculada a garantias de segurança”.
O governo Trump pretende concluir um acordo sobre os minerais ucranianos que “reembolsaria” parcialmente os Estados Unidos pela ajuda fornecida a Kiev.
Quanto à posição de Washington sobre o papel dos aliados europeus, Zelensky afirma que “os Estados Unidos não oferecerão garantias [de segurança] a menos que as próprias garantias da Europa sejam sólidas”.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, incentivou a Europa a compartilhar as próprias posições sobre a Ucrânia e as questões de segurança.
“A Europa precisa urgentemente de seu próprio plano de ação sobre a Ucrânia e nossa segurança, ou então outros atores globais decidirão sobre nosso futuro”, alertou.
Rutte declarou, por sua vez, que os líderes europeus agora entram “na fase de planejamento concreto” das possíveis garantias de segurança para a Ucrânia.
Rússia “precisa da guerra”
Segundo Zelensky, Putin “não pode oferecer garantias reais de segurança, não só porque é um mentiroso, mas porque a Rússia, em seu momento atual, precisa da guerra para manter o poder coeso”.
O líder do Kremlin buscará “que o presidente americano esteja na Praça Vermelha [em Moscou] em 9 de maio [dia em que se comemora a vitória da Rússia sobre a Alemanha nazista] não como um líder respeitado, mas como uma peça de sua própria performance”, acrescentou.
O presidente da Ucrânia não revelou detalhes sobre o encontro com Vance, que afirmou desejar uma paz “duradoura” na Ucrânia, além de garantir aos europeus que “claramente” terão suas partes nas negociações.
As autoridades americanas, entretanto, enviaram mensagens contraditórias acerca da estratégia de Washington.
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, pareceu descartar nesta semana a possibilidade de a Ucrânia ingressar na Otan ou recuperar todo o seu território.
No terreno de batalha, o Exército russo reivindicou, neste sábado, a tomada de uma nova localidade na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, onde as tropas de Moscou vêm avançando há meses.