A queda do governo de Bashar al-Assad na Síria levou o sionismo a propagar a ideia de que todo o Eixo da Resistência estaria condenado ao fracasso, principalmente o Hesbolá e Hamas que travam uma luta aberta contra o regime sionista e o imperialismo. Dessa forma, tal derrota comprometeria a existência das organizações resistências libanesa e palestina, uma vez que o país árabe possibilitou o abastecimento de suprimentos militares. A questão é que, ainda que tenha sido fundamental, a Síria não cumpre o papel decisivo de outrora, a resistência libanesa já se consolidou como uma importante força militar na região e, com o fim do recente conflito, impôs a terceira derrota seguida ao regime israelense.
A declaração do ex-líder do Hesbolá, Hassan Nassaralá, sobre o papel da Síria em 2013 e 2015, de que a queda do governo Bashar al-Assad levaria toda resistência islâmica ao colapso, pode produzir esse mesmo sentimento hoje tendo em vista que o imperialismo busca isolar o Líbano. Além da questão militar, o território sírio também foi essencial como rota para fornecimento de combustível e medicamentos em virtude das sanções do imperialismo contra o Líbano em 2019. No entanto, a realidade hoje é muito diferente. A resistência libanesa dispõe de tecnologia para produzir drones e mísseis, além disso possui grande quantidade de mísseis sírios, tornando-se uma das maiores forças militares do mundo. No início deste ano, Nassaralá chegou a cogitar a possibilidade de comercializar mísseis em virtude de seu arsenal e capacidade de produção.
Após a derrubada de Bashar al-Assad pelos grupos de mercenários a serviço do imperialismo, as forças sionistas bombardearam mais de 300 instalações militares que incluem estruturas navais, armazéns e aeródromos. Em apenas dois dias, o regime israelense buscou desmilitarizar totalmente o país árabe. Apesar de impactante, a ação imediata do enclave imperialista demonstra grande preocupação, não somente pela destruição das estruturas militares, mas também pelos assassinatos de pessoas capacitadas para organizar e operar a defesa síria. Nada garante que o atual regime liderado por Abu Mohammad al-Jolani, formado por grupos que possuem militantes de 91 nacionalidades, seja capaz de estabilizar a situação no país.
Toda a resistência islâmica foi organizada em meio a grandes adversidades, o Hesbolá mesmo se formou durante a invasão sionista ao Líbano em 1982 e depois de 18 anos de luta saiu vitorioso. O mesmo vale para o Hamas na Faixa de Gaza e para os Hutis no Iêmen, apesar de todo o cerco promovido pelo imperialismo, os movimentos de libertação prosperaram e travam a luta de suas vidas. É importante destacar o papel fundamental que cumpriu o ex-general iraniano, Qasem Soleimani, na organização da resistência islâmica na região e que o Irã continuará a ter como força de dissuasão contra o sionismo e o imperialismo.
São justamente os desafios que movem essas organizações, o assassinato de quase todo quadro de lideranças do Hesbolá não impediu sua recente vitória após 70 dias de conflitos, o genocídio de mais de 40 mil palestinos também não impediu o Hamas de travar uma luta que dura mais de um ano, bem como, a morte de Soleimani não impediu que Irã de dar uma resposta contudente aos recentes ataques sionistas. Da mesma forma, a derrubada do governo de Bashar al-Assad não impedirá a resistência de continuar a lutar e superar os desafios que se apresentarão, até porque a situação na Síria não pode ser dada como definitiva, ainda há muitos acontecimentos nessa próxima etapa.