
O governo brasileiro repatriou nesta quarta-feira (27) Karina Aylin Rayol Barbosa, de 28 anos, única brasileira ainda viva que se juntou ao Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Ela desembarcou no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, vinda de Damasco com escala em Doha, acompanhada por diplomatas e agentes da Polícia Federal. Junto a Karina estava seu filho de sete anos, nascido de seu casamento com um combatente do grupo.
Antes de ser entregue à família, Karina foi ouvida por cerca de duas horas na delegacia da PF em Guarulhos. Ela deixou Belém, no Pará, em abril de 2016, quando era estudante de jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA). Sem avisar os pais, viajou para São Paulo, seguiu para Istambul, na Turquia, e cruzou a fronteira até Aleppo, na Síria, onde passou a integrar o contingente de estrangeiros atraídos pela propaganda do Estado Islâmico.
Karina viveu por anos em Raqqa, então considerada capital simbólica do grupo, e depois foi levada para Baghuz, último reduto do EI. Em 2019, acabou presa por forças curdas e enviada ao campo de prisioneiros de Al-Hol, que chegou a reunir 70 mil mulheres e crianças ligadas ao grupo. Nos anos seguintes, permaneceu em centros de detenção no Curdistão sírio, de onde tentou escapar em pelo menos duas ocasiões, mas sempre foi recapturada.

A família, católica e de classe média baixa de Belém, buscava apoio do governo brasileiro desde 2019, sem sucesso. Apenas no fim de 2024 a Defensoria Pública da União ingressou com ação para garantir assistência consular. De acordo com o defensor Marcos Wagner Teixeira, a repatriação era um direito garantido pela Constituição a ela e ao filho, independentemente de eventuais investigações futuras.
Karina nunca foi acusada formalmente de terrorismo no Brasil nem indiciada por crimes relacionados à participação no Estado Islâmico. Agora, após quase uma década fora, está livre para recomeçar a vida, mas será monitorada pela Polícia Federal e, segundo especialistas, continuará sob observação de agências internacionais de inteligência.
O retorno da jovem encerra um longo processo de negociações diplomáticas, já que o Itamaraty não havia realizado esforços anteriores de repatriação. Ela foi entregue à família em São Paulo e deverá ser acompanhada de perto pelas autoridades de segurança enquanto retoma a vida fora dos campos de detenção.