A proibição do uso de celulares em sala de aula nas escolas brasileiras, implementada em fevereiro de 2025 pela Lei 15.100/2025, não gerou a melhora esperada pela esquerda pequeno-burguesa na educação. Ao final do primeiro semestre letivo, a medida é alvo de críticas e demonstra, por um lado, a oposição de muitos educadores à sua aplicação e, por outro, uma piora ou estagnação no desempenho dos alunos, segundo avaliações de alguns profissionais.
A lei restringe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais por estudantes, exceto para fins pedagógicos, exigindo que escolas públicas e privadas estabeleçam novas rotinas.
Uma pesquisa divulgada pela Folha de S. Paulo que entrevistou 32 professores anonimamente entre os dias 13 e 17 de maio, revelou que 53% dos docentes afirmam que a lei não está sendo cumprida nas unidades escolares. Apesar disso, 37,5% dos entrevistados acreditam que a relação professor-aluno melhorou, enquanto 25% avaliam que o clima em sala de aula piorou. Dentre as reclamações dos professores, destaca-se a atribuição de mais uma função: a de fiscalizar o uso do celular, além de suas tarefas de lecionar, sobrecarregando a categoria.
Nas escolas privadas, a estrutura disponível facilitou o monitoramento e a restrição do uso de celulares, tablets e computadores, que são considerados recursos essenciais em algumas unidades. Ana Paula Silva Santos, professora de Ciências de uma escola particular, disse que os alunos são desestimulados a usar os aparelhos.
“Vou replicar as palavras da minha diretora: ‘Nós somos uma escola de liderança e não faz sentido a gente proibir, porque os estudantes precisam ter esse autocontrole’. Eu achei isso muito bom, porque tudo que é muito preso ou muito proibido não é legal. Claro que cada escola adequa isso à sua realidade”, afirmou ela. André Paulino, estagiário de História em uma escola particular, disse que ele e outros estagiários, atuando como figuras de vigilância, coíbem o uso do celular, embora reconheça que os alunos tentam burlar as normas.
Na rede pública, a realidade é distinta. A falta de recursos e o grande número de alunos por classe dificultam o monitoramento, facilitando que os estudantes burlem a regra. Para mexer no celular de forma disfarçada, alguns alunos usam roupas, fone de ouvido bluetooth, escondem os aparelhos na mochila, apostila ou estojo, e até pedem para ir ao banheiro.
“Eles usam de todas as maneiras possíveis, a regra foi mal implementada”, relatou um dos participantes da pesquisa. “Eles usam na cara dura”, escreveu outro professor. O professor e influenciador digital Tiago Luz apontou que a maior dificuldade é com alunos do 8º ano até o 3º ano do Ensino Médio, que são usuários intensos de redes sociais. “Essa lei ainda não está em aplicação total. Os alunos acham um jeito de burlar, de usar o celular escondido. Têm escolas que fazem vista grossa, outras pegam mais firme, mas o fato é que onde eles [alunos] não estão utilizando [o celular] os resultados têm sido melhor na questão da aprendizagem, da atenção, e da própria relação entre os alunos”, afirmou Tiago.
Segundo 51% dos participantes da pesquisa, não houve nenhuma melhora no aprendizado nem nas notas. Esses professores relataram que o desinteresse e a desmotivação continuam nas salas de aula. “Na minha escola piorou [o desempenho], pois eles estão em abstinência do celular. Estão menos interessados e agressivos lançando a frustração da proibição do celular em cima dos professores”, relatou um dos participantes. A proibição dos celulares, portanto, escancara as desigualdades educacionais no País e não se mostra uma solução efetiva para os problemas da educação.