Milhares de apoiadores do ex-presidente boliviano Evo Morales iniciaram uma marcha de 460 km rumo, saindo de Cochabamba (na região central da Bolívia e tradicional reduto eleitoral do líder cocaleiro) até a capital La Paz, para exigir que ele possa concorrer às eleições presidenciais de 17 de agosto. Segundo a imprensa local, sindicatos de trabalhadores e movimentos indígenas, portando bandeiras e cartazes, participam da mobilização contra a decisão do Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP), que baniu Morales da disputa ao limitar a reeleição a um mandato contínuo.
A medida, tomada na última quarta-feira (14), é vista como um golpe do presidente Luis Arce para neutralizar a resistência popular ao imperialismo, representada por Morales. Em carta publicada nas redes sociais na última quinta-feira (15), Evo Morales denunciou:
“Magistrados de fato do Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP), cujo mandato terminou em 31 de dezembro de 2023, emitiram uma sentença que modifica o Artigo 168 da Constituição Política do Estado com o objetivo de me proscrever e impedir minha candidatura presidencial.”
O ex-presidente derrubado acrescentou ainda que “os juízes usurpadores se arrogam um mandato que a Constituição não lhes confere. E isso é cometer um crime flagrante contra a Carta Magna. O Artigo 122 da Constituição estabelece: ‘são nulos os atos das pessoas que usurpam funções que não lhes competem, assim como os atos daqueles que exercem jurisdição ou autoridade que não emane da lei’”.
Morales também se declarou “vítima de um Plano Condor Judicial”, e afirmou, por fim: “sou acusado de tudo. Sou condenado pela imprensa e pela justiça sem direito ao devido processo ou à presunção de inocência. Por tudo sou culpado. Os insultos de ódio e racismo são constantes. Buscam proscrever o movimento indígena e popular”.
Arce, que anunciou na última terça-feira (13) que não buscará reeleição e pediu a Morales que abandone sua candidatura para evitar divisão na esquerda. Mais popular, Morales respondeu que “só o povo pode pedir-me para retirar minha candidatura”. A marcha reflete a polarização política na Bolívia, agravada desde o golpe de 2019 contra Morales, apoiado pelos EUA, segundo a agência multi-estatal sul-americana Telesur.