Após declarações de que as urnas brasileiras não são auditáveis, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, provocou uma celeuma com a direita brasileira. Diversos órgãos do campo dedicaram-se a uma campanha para tornar o líder da República Bolivariana comparável ao líder da extrema direita brasileira, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.
Na última terça-feira (23), Maduro afirmou que o sistema de votação brasileiro é “inauditável” e que a Venezuela tem “o melhor sistema eleitoral do mundo”, com 16 auditorias. “Onde mais no mundo se faz isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é inauditável. No Brasil? Eles não auditam um único registro”, disse em comício, o que valeu uma avalanche de críticas por parte da direita nacional.
“A política está tão aloprada que o protoditador [grifo nosso] da Venezuela, Nicolás Maduro, saiu em defesa de Jair Bolsonaro e Donald Trump”, escreveu o colunista Merval Pereira em sua coluna, sem explicar exatamente qual seria a defesa de Bolsonaro ou de Donald Trump.
O ex-presidente, por sua vez, reagiu com uma mensagem no X, dizendo “Maduro is my friend (Maduro é meu amigo, em português)”. Na mesma publicação, Bolsonaro trazia uma captura de tela de outra matéria do gênero, produzida pelo igualmente golpista portal UOL.
“Maduro disse que as urnas brasileiras não são auditáveis, dando margem a questionamentos sobre os resultados das eleições. É exatamente o mesmo argumento usado pelos bolsonaristas”, escreveu a colunista Raquel Landim, no artigo intitulado É inadmissível tolerar fala bolsonarista de Maduro sobre eleições no Brasil.
As comparações, no entanto, foram criticadas por Deltan Dallagnol, ex-deputado cassado por perseguição política da direita centrista. “Como é possível, então, que a imprensa brasileira associe Maduro a Bolsonaro, um de seus maiores opositores?”, questionou Dallagnol em sua coluna.
Na esquerda também, não faltou quem fizesse a comparação. Caso da jornalista Cynara Menezes, que em seu perfil oficial no X escreveu que “Lula faz bem em soltar a mão dele [Maduro]” e que uma das principais personalidades da luta contra o imperialismo no continente “parece Trump”:
“Se maduro não gosta de democracia e ameaça não aceitar resultado de eleição, Lula faz bem em soltar a mão dele. Esse negócio de ‘banho de sangue’ se perder parece o Trump falando”, conclui a jornalista.
Finalmente, um desenrolar importante foi a afirmação do TSE de que não acompanhará mais as eleições venezuelanas em razão das “falsas declarações” sobre as urnas brasileiras:
“Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo”, afirmou o órgão em nota.
No próximo domingo (28), milhões de eleitores venezuelanos vão às urnas para as eleições gerais do país vizinho. Ciente da dificuldade de seus candidatos derrotarem Maduro, o imperialismo busca interferir na República Bolivariana por meio da confusão.
De maneira cínica, os mesmos que apoiam a ditadura militar que é o Estado de “Israel”, acusa, diante de mais uma derrota iminente do imperialismo, o governo popular de Maduro de ser uma “ditadura”.