O sucesso da reunião dos BRICS no Rio de Janeiro pode ser avaliado pela reação desesperada do presidente dos Estados Unidos. Donald Trump acaba de publicar em sua rede social Truth Social que “qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas dos BRICS pagará uma tarifa ADICIONAL de 10%. Não haverá exceções a esta política. Agradecemos a sua atenção!”

A declaração demonstra como o fortalecimento do bloco de países emergentes deixa Washington em pânico. Esta nova chantagem não é coincidência – ela acontece exatamente como consequência direta do sucesso da 17ª Cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho.

A ameaça como consequência do sucesso

A reunião contou com líderes de 21 países emergentes sob o tema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, demonstrando a coesão e maturidade do bloco.

O timing da declaração revela o desespero de Trump. As intimidações foram feitas justamente quando se aproxima o prazo estabelecido pelo próprio governo americano de 90 dias desde que ele anunciou seu “Liberation Day” em 2 de abril de 2025. Os 90 dias se completam nesta semana que entra, e Trump não tem nenhum acordo significativo para apresentar.

Na realidade, o presidente americano prometeu “90 acordos em 90 dias” e não conseguiu entregar praticamente nada. Houve apenas um rascunho de acordo com o Reino Unido e outro com o Vietnã, ambos pouco significativos. O fracasso é evidente, e as intimidações aos BRICS servem como cortina de fumaça para esconder a incompetência diplomática americana.

O histórico de intimidação

As chantagens de Trump aos BRICS começaram ainda antes de sua posse. Em dezembro de 2024, o então presidente eleito já havia intimidado os países do bloco com tarifas de 100% caso continuassem buscando alternativas ao dólar americano.

“Vamos exigir um compromisso desses países aparentemente hostis de que eles não criarão uma nova moeda nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano”, declarou Trump, revelando sua obsessão em manter a hegemonia do dólar.

Em fevereiro de 2025, Trump chegou ao ponto de afirmar que “o BRICS morreu” depois de suas intimidações. A cúpula do Rio de Janeiro provou o contrário, mostrando um bloco mais forte e unido do que nunca.

A inutilidade da chantagem

O interessante é que os países dos BRICS não precisam nem tentar nada específico para provocar a ira de Trump. O presidente americano pode impor tarifas de qualquer forma, como já demonstrou com outros países. A arbitrariedade das medidas revela que não se trata de questões comerciais, mas de pura intimidação geopolítica.

As tarifas mostram sua verdadeira natureza: não são sobre reequilíbrio comercial, arrecadação ou reindustrialização. São simplesmente ferramentas de coerção contra países que não querem obedecer aos ditames americanos. Trump deixou isso claro ao condicionar as tarifas não a questões econômicas, mas ao alinhamento político com as “políticas antiamericanas” dos BRICS.

A resposta elegante dos BRICS

A Declaração do Rio de Janeiro representa uma resposta madura às provocações americanas. Sem citar diretamente Trump, o documento expressa “sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio”.

O bloco reafirmou seu compromisso com o multilateralismo, contrastando com o unilateralismo agressivo de Washington. Os líderes defenderam o fortalecimento de instituições como a ONU e rejeitaram ações unilaterais que enfraquecem o sistema global.

A cúpula também abordou questões geopolíticas sensíveis, condenando ataques ao Irã e defendendo uma solução de dois Estados para o conflito palestino-israelense, posicionamentos que contrastam com a política externa americana.

A força dos BRICS e a segurança da união

Trump pode impor tarifas tanto dentro quanto fora dos BRICS, então que segurança os países podem ter de que estar fora do bloco fará alguma diferença? A resposta é clara: dentro dos BRICS, eles têm força coletiva e proteção mútua.

Os BRICS hoje correspondem a mais de 40% da população mundial e representam cerca de 40% do PIB global, com projeções de alcançar 41% em 2025. Todos os países do bloco estão crescendo economicamente, com taxas que variam de 1,1% a 6,1%, superando a média mundial. Com a expansão recente, o grupo agora inclui 11 membros plenos: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Arábia Saudita.

Diferentemente de organizações dominadas pelos Estados Unidos e Europa, como o G7 ou a própria Organização Mundial do Comércio, os BRICS constituem um polo realmente independente e não alinhado. Os países podem se sentir mais seguros e protegidos dentro do bloco do que fora, pois têm o respaldo de um grupo que representa quase metade da economia e população mundiais.

O presente involuntário de Trump

A própria declaração do presidente americano tem um caráter quase infantil que demonstra o bullying, o desprezo ao mundo inteiro, o desprezo à liberdade de comércio e ao direito internacional. Esse comportamento antidemocrático torna ainda mais importante para o Sul Global se organizar em torno dos BRICS.

Ironicamente, Trump acabou dando um presente ao bloco, fortalecendo ainda mais a organização. Suas intimidações vulgares e arbitrárias demonstram exatamente por que o mundo precisa de alternativas ao sistema unipolar americano. Cada declaração hostil serve como propaganda gratuita para a necessidade de multipolarização.

O processo inexorável

As chantagens de Trump na realidade justificam a própria existência dos BRICS, demonstrando a necessidade de fazer frente a um país que utiliza sua posição dominante para intimidar nações soberanas. É importante lembrar que Trump apenas explicita de forma mais crua aquilo que o sistema de poder americano, tanto democratas quanto republicanos, sempre fez.

O processo de desdolarização, ou seja, de emancipação do mundo da ditadura do dólar, segue seu curso inexorável. As intimidações de Trump apenas aceleram essa transformação ao demonstrar como o sistema financeiro internacional é usado como arma de coerção política.

O presidente americano, com sua retórica agressiva e suas chantagens tarifárias, está acelerando o processo que mais teme: a consolidação de um bloco independente capaz de fazer frente à hegemonia americana. As intimidações que deveriam atemorizar estão, na verdade, unindo ainda mais os países do Sul Global em torno dos BRICS.

O crescimento do bloco representa um desafio fundamental à ordem unipolar. Países que representam mais da metade da população mundial não estão mais dispostos a aceitar passivamente os ditames da plutocracia corrompida do Ocidente.

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Last Update: 07/07/2025