No mês da visibilidade trans, o programa Café PT, da TVPT, recebeu nesta sexta-feira (24) a artista, modelo e dançarina Anastácia Marshelly, para uma conversa sobre os desafios de construir uma carreira no meio hip-hop brasileiro, sendo uma pessoa trans.
Atuando na cena cultural de Belém, Marshelly destacou os obstáculos enfrentados, suas conquistas e a importância da arte como instrumento de resistência e empoderamento.
A artista iniciou sua trajetória na cultura hip-hop, especificamente nas batalhas de rima, um ambiente predominantemente masculino e marcado por machismo e transfobia. “O rap sempre fez parte da minha construção política e das minhas vivências, e eu queria estar naquele espaço”, relembra.
No entanto, sua presença era frequentemente ridicularizada. Para enfrentar esse cenário hostil, Marshelly uniu o rap à dança, uma paixão antiga, criando performances que desafiam os padrões tradicionais do movimento.
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Coletivos culturais
Em Belém, Marshelly faz parte do coletivo Battle Girl Power, criado em 2019 pela artista Ruth Clark. O grupo, composto por mulheres, trabalha para criar lugares seguros para a expressão artística feminina e LGBTQIA+.
“Pegamos o que não existia para nós e construímos esses espaços saudáveis”, afirma. Ela celebra a expansão de coletivos que fortalecem a cena cultural, ampliando a representatividade e criando oportunidades para novas artistas trans.
A modelo pontua ainda a xenofobia enfrentada por artistas do Norte e Nordeste. “Agora que estão nos olhando, mas já somos potências há muito tempo”, destaca. Para ela, é essencial que o Brasil e o mundo conheçam talentos regionais como Sumano, Nick Dias, Morais MV, Viena, Negra Bi, entre outros.
Transformação social
Para Marshelly, a arte é um instrumento de mudança e empoderamento. “Me deu o poder de gritar, de ser imponente e de ser ouvida”, afirma.
Suas performances buscam expressar identidade, provocar reflexões e abrir espaço para outras pessoas trans na cultura. Ela também lembrou sua participação em uma candidatura coletiva nas eleições de 2022, ressaltando a importância de pessoas trans ocuparem espaços de poder.
“Precisamos falar por nós mesmas. Ninguém melhor do que nós para entender nossas necessidades”, pontua. Segundo ela, a política deve refletir a pluralidade da sociedade, e a presença de mulheres trans no Congresso Nacional, como Erika Hilton, é essencial para avanços reais.
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Retomada do governo Lula e a comunidade LGBTQIA+
Com o retorno de Lula à presidência, Marshelly acredita em maior abertura para o diálogo e avanços no país. “O governo Lula sempre foi acessível à nossa população”, diz.
Ela menciona políticas públicas inclusivas, como a criação do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, que reforçam o compromisso do governo com a diversidade e o combate à discriminação.
Além disso, iniciativas como o programa Brasil Acolhedor visam aumentar o acesso ao mercado de trabalho e a serviços essenciais, oferecendo suporte direto para a comunidade trans e travesti. “É uma nova era de reconhecimento e respeito”, destaca.
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Arte para combater o ódio e disseminar a diversidade
Anastácia Marshelly defende o papel transformador da arte no enfrentamento ao discurso de ódio. “A arte nos salva e nos fortalece, ela é capaz de mudar mentalidades e criar pontes”, diz.
Ao falar sobre o mês da visibilidade trans, ela destaca que a luta vai além de datas comemorativas. “Eu não sou trans apenas em janeiro, sou trans todos os dias. Nossa luta é diária”, enfatiza, apontando a necessidade de reconhecimento e apoio contínuo.
“Bora fazer arte, bora fazer cultura! Viva a cultura nortista!”, finaliza.
Da Redação