Após um ano de seca severa e muita dificuldade para o agronegócio, 2024 termina com uma boa notícia para a economia brasileira, em especial para o agro: o acordo do Mercosul com a União Europeia. O presidente da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Antônio de Salvo (foto/reprodução internet), acredita que principalmente o café e a soja serão beneficiados com o fim das taxas de exportação, que tornarão os produtos brasileiros mais competitivos.
O acordo entre o Mercosul e a União Europeia será importante para o agronegócio mineiro?
Especificamente para o agro, o acordo é bastante favorável, se eles fizerem como está proposto entre as lideranças mundiais, entre os chefes de Estado. Nós vemos, principalmente no setor da cafeicultura e no setor do complexo soja, que uma diminuição das taxas de exportação trará, certamente, uma ampliação da exportação desses dois produtos. São os dois setores que terão mais vantagens, porque somos muito competitivos. Certamente vamos ter uma pressão ainda maior da França, que é o país que mais vai ser afetado. Mas esperamos que seja concluído, já que desde 1999 está a pendência. Nós somos o maior produtor de café do mundo. Nós exportamos para a comunidade europeia, por volta de 38% do café produzido no Brasil e, do complexo soja, acho que é um pouco mais de 20%.
Com o fim das taxas, o senhor acha que pode aumentar ainda mais as exportações?
Certamente sim, porque vamos ficar com preços mais competitivos para colocar café naquele mercado.
Os franceses estão fazendo uma campanha muito forte contra a carne brasileira. Isso pode ser um problema?
É sim. Vale lembrar que nesse episódio, o CEO do Carrefour, que foi um episódio lamentável, mostra pouco conhecimento sobre o assunto, mas cada um tem um CEO que merece. Para cada 1000 kg de carne que o Brasil exporta, só 2 vão para a França, então é uma quantidade muito pequena. E eles têm a reserva de mercado. São países que já passaram por guerras, sabem das dificuldades de uma vantagem comercial nossa, uma vantagem competitiva do Mercosul e principalmente do Brasil. Eles já passaram por guerras e sabem da importância da segurança alimentar. Mas a carne exportada é muito pouco significativa, principalmente para a França. Para a União Europeia sim, já é mais um volume maior. Mas o grosso da nossa carne exportada hoje está indo para os países asiático, principalmente China. Com o que nós temos que ficar atento também é com a abertura de mercado pois eles vão ser ainda mais rigorosos na parte de sanidade desses animais, em relação a certificação de origem. Nós temos que, mais do que nunca, trabalhar para que a gente esteja ainda mais competitivo e fazendo o nosso dever de casa, como sempre fizemos, porque na parte ambiental somos imbatíveis no mundo. Ninguém tem o que nós temos.
Esse é um momento especial em um ano difícil. Como foi 2024?
É 2024 foi um ano difícil. A seca se prolongou muito porque ela se iniciou muito cedo, nos meses de março e abril em algumas regiões produtoras. E aí nós tivemos um período de seca muito prolongado. Isso afetou a safra de 2024, principalmente do café, afetou também a produção mineira de leite, a produção de carne. Os outros setores, onde nós somos competitivos, que é o setor de silvicultura, nós temos o eucalipto mais resistente e ele se compensa. Onde nós realmente tivemos mais problemas foi na cafeicultura. Vamos aguardar o que que vai acontecer nesse final de ano, começo de janeiro, para a gente fazer um balanço mais firme para ver se nós vamos ter queda o ano que vem de novo. Tudo indica que sim, mas não dá para mensurar ainda em termos estatísticos, qual será o tamanho dessa queda. Mas, de um modo geral, o setor foi muito bem, vai muito bem e continuará sendo sustentável como ninguém e mais do que isso, um gerador de riquezas e de divisas para os municípios mineiros, para os estados brasileiros, para Minas e o Brasil, para termos esse dinheiro revertido em saúde, em segurança, em educação. Enfim, é a riqueza do agro, trazendo dinheiro para melhorar a situação de todos os brasileiros ou melhorar a qualidade de vida e a renda per capita de todos os brasileiros, não só dos proprietários rurais.
Agora, a chuva está vindo na medida adequada?
Sim, a chuva, de outubro para cá, está bastante equilibrada. Evidentemente, em alguns pontos, pequenos de excessos. Mas a gente não está enxergando nenhum problema até agora e esperamos que seja um ano tranquilo. Para que o Brasil e Minas possam continuar crescendo e fazendo a sua parte no que diz respeito a agricultura e a pecuária.