Gás do Povo: quando a chama da dignidade ilumina a casa dos mais pobres

Por Antonio Sérgio Neves de Azevedo*

No Brasil, acender o fogão ainda é um privilégio para muitos. Enquanto parte da população gira a válvula e inicia o preparo da refeição com segurança, milhões enfrentam a fumaça da lenha, olhos ardendo e pulmões castigados. Essa é a face invisível da pobreza energética, uma desigualdade que não aparece nos gráficos, mas sufoca diariamente famílias em situação de vulnerabilidade.

É nesse cenário que o programa Gás do Povo surge como uma política pública de potencial transformador. Ao substituir o antigo Auxílio Gás, ele muda a lógica da assistência: em vez de dinheiro, entrega-se diretamente o botijão às famílias. Parece simples, mas é revolucionário. Garante o uso correto do benefício, reduz desvios e reposiciona o gás de cozinha como um direito básico, não um luxo.

Mais do que uma medida emergencial, o Gás do Povo é uma política diretamente alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. Seu impacto se desdobra em diversos objetivos: ODS 1 (Erradicação da pobreza) reduz gastos essenciais das famílias, liberando recursos antes destinados à compra de lenha ou carvão. ODS 3 (Saúde e bem-estar) diminui a exposição à fumaça doméstica, prevenindo doenças respiratórias e problemas de saúde infantil. ODS 5 (Igualdade de gênero) beneficia principalmente mulheres, tradicionalmente responsáveis pelo preparo das refeições, reduzindo sobrecarga do trabalho doméstico e melhorando segurança e bem-estar. ODS 7 (Energia acessível e limpa) democratiza o acesso ao gás de cozinha como estratégia de inclusão energética. ODS 10 (Redução das desigualdades) alcança comunidades periféricas, ribeirinhas e quilombolas, promovendo justiça social e inclusão territorial. ODS 17 (Parcerias e meios de implementação) exige cooperação entre governo, empresas e sociedade civil para garantir logística eficiente, monitoramento transparente e impacto duradouro.

Nesse contexto, mais do que uma fonte de energia, o gás de cozinha é uma ferramenta de emancipação. Permite refeições mais seguras, nutritivas e rápidas, reduz gastos com saúde, diminui o tempo perdido coletando lenha e abre espaço para investimentos em educação e trabalho. O efeito multiplicador do programa, desde a melhoria da nutrição infantil até o aumento da produtividade escolar, mostra que políticas públicas bem desenhadas podem gerar ondas de desenvolvimento sustentável.

A implementação enfrenta desafios significativos: garantir acesso a comunidades ribeirinhas, quilombolas e povos originários exige logística eficiente, respeito cultural e compromisso político contínuo. Sem marcos legais claros e indicadores mensuráveis, como redução de doenças respiratórias, melhora nutricional e diminuição do desmatamento, o impacto real pode ser comprometido.

Dito isso, o sucesso do Gás do Povo não será medido apenas pelo número de botijões distribuídos, mas por vidas transformadas, redução de internações, melhoria da nutrição, aumento do tempo para estudo e trabalho e diminuição do desmatamento. Cada chama acesa simboliza um avanço concreto rumo aos ODS, reforçando que dignidade não é luxo, é direito.

Destarte, ao iluminar cozinhas antes envoltas em fumaça, o programa acende também uma chama simbólica para o Brasil: a de um futuro em que desenvolvimento sustentável e justiça social caminham lado a lado, mostrando que políticas energéticas podem ser instrumentos poderosos de transformação humana e territorial.

*Antonio Sérgio Neves de Azevedo é engenheiro e doutorando em Direito, em Curitiba, no Paraná.

Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Last Update: 05/09/2025