A REVOLTA DIGITAL CONTRA O CONGRESSO NACIONAL

Por Antonio Sérgio Neves de Azevedo*

O Brasil está fervendo, não nos termômetros, mas nas redes sociais que escancaram a percepção popular de que o Legislativo protege os ricos e pune os pobres. Ou seja, a indignação popular encontrou voz, fôlego e hashtags.

No centro da revolta: o Congresso Nacional. Enquanto parlamentares derrubam propostas que visam ampliar a justiça fiscal, aumentam a conta de luz e resistem à taxação dos bilionários, o povo reage com ironia, dor e resistência.

No X (antigo Twitter), por exemplo, frases como “Pobre paga, rico lucra” e “Fim da mamata” viralizam como grito coletivo de quem já não suporta carregar o país nas costas.

A frase o “Pobre paga, rico lucra”, virou uma síntese do atual sentimento de injustiça social.

Com a derrubada do decreto que reajustava o IOF, imposto que incide principalmente sobre operações de crédito e seria direcionado à ampliação de políticas públicas, os usuários das redes entenderam o recado: o Congresso poupou os que mais têm e empurrou a conta para quem tem menos.

Nos posts, o diagnóstico é unânime: enquanto os bancos e grandes fortunas escapam da taxação, o trabalhador continua pagando caro no cartão de crédito, no empréstimo pessoal e nos boletos do dia a dia. A equação é perversa: o andar de cima lucra com a proteção legislativa; o andar de baixo sangra no fim do mês.

Outra frase: “Fim da mamata”, a indignação é também moral.

“Mamata”, aqui, não é apenas o auxílio-moradia para quem já tem imóvel próprio ou os supersalários com penduricalhos dos Deputados. É, acima de tudo, a blindagem do privilégio. O Congresso, aos olhos do povo digital, tornou-se símbolo da manutenção de um sistema onde os poderosos se protegem entre si.

Nesse sentido, os protestos previstos na Avenida Paulista e todos os dias nas redes sociais não pedem só justiça tributária, pedem o fim dos privilégios. A narrativa que ganha corpo nas plataformas digitais sugere que a classe política, ao rejeitar a taxação dos super-ricos, reafirma sua aliança com os que sempre lucraram em silêncio, enquanto o povo engole a conta.

Já para a hashtag “Fim da escala 6×1” é uma pauta, mais trabalhista que fiscal, que também explodiu nas redes sociais nas últimas semanas. A proposta de permitir a ampliação da jornada de trabalho para além do atual limite de seis dias com um de descanso provocou fúria generalizada.

Os twitteiros veem aí um ataque direto à dignidade do trabalhador brasileiro. “Querem que a gente trabalhe como máquina, enquanto os bilionários descansam nas Bahamas”, dizia um dos posts com mais engajamento.

A luta pela manutenção do 6×1 virou símbolo de uma resistência mais ampla: contra a exploração, o esgotamento físico e a retirada de direitos históricos em nome da “produtividade”.

Com o “Brasil soberano”, está dentre as postagens mais compartilhadas, existe uma ideia recorrente: a de que um país que não protege seu povo da fome, da jornada exaustiva e da desigualdade fiscal, perde sua soberania.

“Brasil soberano” não é só um grito nacionalista – é o chamado por um Estado que governe para a maioria, e não para uma elite isolada nos gabinetes do Congresso ou nos salões da Faria Lima.

Esse sentimento está nas falas de jovens, trabalhadores, ativistas e influenciadores que compartilham indignação como forma de militância. Defender a soberania, para eles, é taxar fortunas, proteger direitos, respeitar o trabalhador e garantir que as riquezas do país sirvam ao seu povo, e não apenas aos seus rentistas.

“Não vamos recuar”, é um chamamento de luta contínua, sem data para acabar.

Ou seja, o que começou como postagens indignadas se transformou em convocação de atos, articulação de movimentos e uma nova pedagogia política popular. O discurso virtual ganhou as ruas, com faixas, megafones e ocupações simbólicas.

A ocupação do Banco Itaú em São Paulo por movimentos sociais, na Faria Lima, foi emblemática: uma invasão à fortaleza dos intocáveis. “Nós não vamos recuar”, dizem os twitteiros, agora nas calçadas e nas avenidas.

A frase virou mote de resistência frente a um Congresso que parece disposto a avançar contra os direitos e as garantias da população trabalhadora. Não se trata apenas de um embate partidário, mas de um conflito estrutural entre interesses antagônicos: os que vivem do trabalho e os que acumulam renda sem tocá-lo.

Nesse contexto, essa mobilização ganhou ainda mais força com a difusão de vídeos criados por inteligência artificial que simulam protestos massivos contra o Congresso Nacional. Um dos exemplos mais virais foi o vídeo que mostrava manifestantes cercando o atual presidente da Câmara dos Deputados, com gritos de “traidor do povo” e faixas exigindo justiça fiscal.

Produzido com a ferramenta Veo, da Google, o vídeo exibia cenas hiper-realistas, mas fabricadas digitalmente, inclusive com a marca d’água visível, embora sem qualquer aviso sobre sua origem sintética. A circulação desse tipo de conteúdo gerou confusão, reforçou narrativas e mostrou como a revolta popular, ainda que em parte fictícia, encontrou novas tecnologias para amplificar sua mensagem. Mesmo sendo criação por IA, o vídeo serviu como combustível para uma indignação real.

As redes sociais já não são mais apenas o espelho da sociedade: são o motor da nova mobilização política no Brasil. Nelas, o Congresso virou alvo não por acaso, mas por escolha deliberada de quem está cansado de ver os poderosos impunes e os pobres punidos.

O próximo passo é a mobilização eleitoral. Mas até lá, o grito que ecoa nos tweets parece crescer de forma exponencial no jargão: “Pobre paga, rico lucra”. E, o povo até que enfim, acordou!

E, se o povo acordou, também se afirmou soberano. Nenhum país estrangeiro, nem mesmo os EUA com sua retórica de influência ideológica e alinhamento internacional, tem o direito de interferir na vontade democrática do Brasil.

Somos uma nação livre, soberana, e quem decide os rumos do Brasil é o povo brasileiro, nas urnas, com consciência, coragem e independência. Nesse entendimento, as eleições de 2026 serão mais do que uma disputa política: serão uma afirmação de que o Brasil pertence aos brasileiros.

*Antonio Sérgio Neves de Azevedo estudante doutorado em Direito – Curitiba/Paraná.

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Last Update: 09/07/2025