
A defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres prepara uma estratégia para confrontar o general Freire Gomes na acareação marcada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para a próxima terça (24). O objetivo dos advogados é alegar que ele não participou de reuniões com o ex-presidente Jair Bolsonaro e os comandantes militares para discutir ações golpistas após as eleições de 2022.
Segundo a coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo, a “arma secreta” da defesa será um levantamento detalhado de entradas e saídas no Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada entre outubro e dezembro de 2022. O relatório indicaria que Torres e os chefes militares não estiveram juntos nos mesmos locais e horários nesse período.
A defesa do ex-ministro pretende explorar supostas contradições entre os depoimentos de Freire Gomes e Carlos de Almeida Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica.
O ex-chefe do Exército disse que Torres participou de “uma ou duas reuniões” com Bolsonaro e os comandantes, enquanto Baptista, em seu depoimento mais recente, afirmou que não tem certeza da presença do ex-ministro nesses encontros.
Os advogados de Torres vão exigir que Freire Gomes detalhe datas, horários e locais das supostas reuniões. “A vagueza do depoimento prestado por Freire Gomes salta aos olhos”, escreveu o advogado Eumar Novacki em petição ao STF, destacando que a ausência de informações precisas compromete o direito de defesa do ex-ministro.
Inicialmente, a defesa de Freire Gomes havia solicitado que a acareação fosse feita por videoconferência, mas voltou atrás. Em manifestação ao Supremo nesta semana, o general informou que participará presencialmente da acareação em Brasília “em razão do profundo respeito pelas instituições democráticas e de seu elevado senso de dever cívico”.

A acareação foi solicitada pela defesa de Torres após divergências nos depoimentos. Em seu relato mais recente, Freire Gomes declarou que Torres atuou apenas como assessor jurídico e nunca interferiu diretamente. Já Baptista Junior inicialmente apontou que Torres ajudou a embasar juridicamente ideias como a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e Estado de Defesa, mas depois voltou atrás.
Outro depoente, o tenente-coronel Mauro Cid, delator do caso, também afirmou que Torres não esteve presente em reuniões golpistas. Segundo ele, o ex-ministro não teve participação ativa em qualquer plano para impedir a posse de Lula.
Em um dos documentos entregues ao Supremo, a defesa de Torres anexou registros de movimentação no Palácio do Alvorada, afirmando que não há sobreposição de horários entre ele e Freire Gomes. “Jamais estiveram juntos no mesmo horário/local”, afirma o advogado.
A defesa do general Freire Gomes reagiu, classificando a acareação como “desnecessária” e reafirmando que o ex-comandante “falou a verdade em todos os seus depoimentos, sem contradições”.
“Independentemente da circunstância, continuará cumprindo com o seu dever de falar a verdade”, declarou o advogado João Marco Gomes de Rezende.