Nascida em Beirute em 4 de agosto de 1897, Anbara Salam Khalidi foi uma das primeiras intelectuais e ativistas a articular a emancipação feminina com a causa nacional árabe e palestina, construindo uma trajetória de firmeza política, ousadia pessoal e compromisso com a educação e a cultura do seu povo.
Filha de Salim Ali Salam, figura proeminente da burguesia de Beirute, e de Kulthum al-Barbir, oriunda de uma família de estudiosos religiosos, Anbara cresceu em um ambiente onde o debate político e os ideais nacionalistas estavam presentes. Era uma família numerosa, com sete irmãos e duas irmãs, muitos dos quais viriam a desempenhar papéis de relevo na política e na sociedade libanesa.
Sua educação começou num kuttab, escola tradicional onde aprendeu os fundamentos da língua árabe e do Alcorão. Passou por diversas outras instituições até concluir seus estudos formais na Escola Maqasid para Meninas, sob a direção da renomada educadora Júlia Tuma Dimashqiyya. Durante a Primeira Guerra Mundial, quando a maioria das escolas foi fechada, continuou seus estudos com o arabista e lexicógrafo Shaykh Abdullah al-Bustani, que a ensinou filologia árabe e aprofundou seu conhecimento da tradição clássica.
Desde muito jovem, Anbara se destacou por seu engajamento político. Aos quinze anos, publicou seu primeiro editorial no jornal al-Mufid, editado por Abd al-Ghani al-Uraysi — militante nacionalista com quem chegou a se comprometer em noivado e que foi executado pelos turcos otomanos em 1916, na repressão aos revolucionários árabes. Em seus primeiros textos, Anbara defendia que o renascimento do mundo árabe não poderia ocorrer sem a participação ativa das mulheres, especialmente por meio da educação.
Ainda em 1913, às vésperas da guerra, Anbara e duas amigas enviaram um telegrama de saudação ao Primeiro Congresso Árabe realizado em Paris. A mensagem foi a primeira a ser lida durante o encontro. No mesmo período, fundaram a sociedade O Despertar da Jovem Mulher Árabe, uma das primeiras organizações femininas do mundo árabe. A iniciativa tinha por objetivo promover a educação das meninas, mas foi interrompida com o início do conflito mundial.
Durante a guerra, Anbara se engajou em atividades de assistência social, organizando escolas, abrigos e oficinas para órfãos, ao lado de outras militantes. Em 1917, participou da fundação do Clube da Jovem Mulher Muçulmana, do qual foi presidente. O clube funcionava como um centro cultural e intelectual, recebendo estudiosos e personalidades que realizavam palestras sobre temas científicos e literários. A atividade política e cultural das mulheres, promovida por Anbara, rompia com os limites impostos pela tradição e afirmava uma nova geração de mulheres ativamente engajadas na vida pública.
Com o fim da guerra, Anbara fez parte da delegação de mulheres que apresentou um memorando à Comissão norte-americana King-Crane, responsável por averiguar as reivindicações dos povos árabes contra o domínio colonial. Anbara entregou um documento que expressava as mesmas exigências feitas por lideranças nacionalistas masculinas, rompendo mais uma vez com o papel secundário tradicionalmente imposto às mulheres.
Em 1924, ajudou a fundar em Beirute a Sociedade para a Renascença da Mulher, voltada para a promoção de atividades culturais e de apoio à produção artesanal local. No ano seguinte, viajou à Inglaterra com o pai e três irmãos. Durante os dois anos em que viveu no país europeu, testemunhou a participação das mulheres britânicas na luta por direitos políticos e sociais. A experiência foi marcante. Ao retornar ao Líbano em 1927, proferiu uma palestra intitulada “Uma mulher oriental na Inglaterra”, na qual descreveu suas impressões sobre o país e, em um gesto que causou escândalo à época, subiu ao palco e retirou o véu.
Dois anos depois, em 1929, casou-se com o educador palestino Ahmad Samih al-Khalidi e mudou-se para Jerusalém. Ao lado do marido, que dirigia a Escola al-Khalidiyya e foi reitor do Colégio Árabe, Anbara se engajou profundamente na vida cultural e política da Palestina. Juntos, receberam comissões britânicas e jornalistas estrangeiros interessados em compreender a situação na Palestina, explicando o ponto de vista do povo palestino contra a colonização sionista.
Com o aprofundamento do conflito e a Nakba de 1948, que expulsou centenas de milhares de palestinos de sua terra natal, Anbara retornou ao Líbano, onde continuou a escrever e participar da vida cultural até o fim da vida. Parte de sua produção permanece manuscrita, mas muitos de seus artigos foram publicados em jornais e revistas de todo o mundo árabe.
Anbara Salam Khalidi faleceu em Beirute em 1986.