Anátema à polarização é uma forma de camuflar as contradições de classes

por Francisco Celso Calmon

A polarização sempre existiu desde que a sociedade se organizou e se dividiu em classes antagônicas. Já tivemos os escravos e os amos. Já tivemos os camponeses e os senhores feudais.

E temos os trabalhadores e os capitalistas. Também é chamado na economia a contradição entre capital e trabalho, burguesia e o proletariado, tratados longamente por Marx, Engels, Lenin…

Foram essas contradições antagônicas que levaram a superação dos sistemas e surgimentos de outros.

São as lutas de classes o motor da história, seja para a evolução, seja para a revolução.

A coexistência entre elas numa democracia dura um período, curto ou longo a depender do atendimento às demandas sociais e a consciência ideológica de classe, mas não para sempre, e a necessidade da ruptura surge produzindo ou o retrocesso ou a revolução – as transformações estruturais. 

Na política, a democracia ocidental vem procurando anestesiar esta contradição estrutural do sistema, através de uma democracia que não é tanto democrática. É uma democracia consentida, controlada e que, mesmo assim, ainda fica sujeita a golpes todas as vezes que ela consegue avançar em benefício dos mais necessitados, em benefício do empoderamento das classes trabalhadoras.

Então, quando eles falam de que o governo ou as lideranças de esquerda estão colocando “nós versus eles”, “eles versus nós”, como se fosse uma heresia, na verdade estão preocupados em que essa contradição fundante do sistema capitalista se torne também uma contradição assumida pela sociedade. É o nosso trabalho de conscientização e é o trabalho deles de alienação.

E o que significaria isso? Assumida pela sociedade será entender que, realmente, a economia, as finanças, o poder, estão nas mãos de uns poucos. Agora, chamados também de “Faria Lima” ou “o andar de cima”, são eufemismos para dizer que, entre os que são detentores de privilégios, detentores do capital, detentores do poder, existe o outro lado, também chamado agora de “o andar de baixo”, que sofre as consequências, que vive mal, que vive desumanamente, que vive sem perspectiva futura de como poderá um dia ser feliz, um dia não ter mais discriminação, não ter mais preconceitos, não ter mais exploração, não ter mais opressão.

Enfim, uma sociedade em que o principal objetivo e valor central seja a felicidade, e que, para tanto, é necessário que haja igualdade, que haja equilíbrio entre as camadas, entre as classes sociais, onde deve prevalecer o coletivo e não o individual, os interesses gerais e não os interesses particulares.

Por mais que haja peneiras não conseguem tapar o óbvio: existem os muito ricos e os muito pobres, é isto tem que acabar. É anticivilizatório, é desumanidade.

Essas armadilhas retóricas que os aparelhos político-ideológicos do sistema procuram encurralar o falso republicanismo, a esquerda não pode se curvar, sob pena de perder a sua identidade histórica.

O governo do México tem sido um exemplo a observarmos mais, inobstante a grandeza do Brasil ainda somos uma sociedade atrasada; os golpes nos impediram da construção de um Estado de bem-estar social.

O Congresso Nacional está representando majoritariamente os ricaços e obstaculizam as políticas do governo sempre que ameaçam os privilégios das castas.

Não é retórica o fato de 10% da população deter 41% da renda, enquanto 40% mais pobres ficam com cerca de 6%.

Essa conversa para boi dormir de que não se deve polarizar, só beneficia os que estão no centro do comando do poder e das riquezas do país.

A esquerda deve contraditar sempre às platitudes dos ideólogos da classe dominante.

Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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Last Update: 07/07/2025