Desespero, alavantú – O “deixa pra lá” nunca mais voltará.

por Luís Costa

De tanto ouvir falarem em impunidade diante da criminalidade no Brasil, comecei a me sentir inseguro como cidadão pacífico. Vejo aumentarem desacatos, impaciências, violências por motivos fúteis.

Brigas no trânsito, em botecos que deveriam ser da alegria, na fila da pipoca dos cinemas, entre torcidas de futebol. Rusgas que podem terminar fatais. Policiais usam suas armas de forma indiscriminada, baseados em autoritarismo, ao arrepio da lei, noções rasas, contra estereótipos de potenciais ou supostos criminosos. Nem sempre são bandidos, mas apenas pretos, pobres, adictos, homens e mulheres andrajosos, fora do figurino social e sem “carteira assinada”, esquecidos que as elites política e econômica aboliram as leis do trabalho.

Hoje em dia, diante de alguma refrega, não se ouve mais o pacífico “deixa pra lá”. Pelo contrário, atiça-se, atira-se e depois se verifica a realidade dos fatos. As vozes das vítimas, menos audíveis, sempre serão condicionadas aos status sociais envolvidos.

Diante de cenário assim, meu cagaço aumentou quando o governo anterior, não satisfeito com seus métodos tradicionais, resolveu terceirizar a tarefa para toda a sociedade: “como não conseguimos, pelo contrário, a criminalidade e a violência só aumentaram, vamos intervir de forma mais direta”.

E lá foi o Regente Insano Primeiro (RIP) sacar das piores passagens de sua Bíblia. Insatisfeito com seu genocídio vacinal, liberou a aquisição de armas, pois assim “todos os cidadãos teriam o direito de se defender”.

Deu que deu. Garotões parrudos acorreram às academias para que seus músculos os defendessem da bandidagem. Outros, mais furiosos, supostos caçadores e colecionadores, passaram a frequentar os clubes de tiro. O resultado está aí. Historiadores sérios, no futuro, poderão decifrá-lo melhor.

Mais uma vez, pensei (achando-me um pensador, digno de constar da coleção “Os Pensadores”) estar livre desse perigo. Sou bem-posto na vida e mais: que espécie de bandido seria capaz de agredir um quase octogenário, simples no vestir, mal se equilibrando numa bengala para não cair, vítima que foi de uma cirurgia de medula, ocorrida há pouco mais de três anos, amenizada e, por enquanto, estabilizada por sessões diárias de fisioterapia e uma carrada de medicamentos?

Creio que os brasileiros foram direcionados à histeria pelo pensamento armamentista; olho por olho, dente por dente; um ‘talionismo’ criado pelo RIP.

Neste ponto da crônica, sempre que muito feroz, lembro-me do pensador dos católicos ricos, Gustavo Corção (1896-1978) que assim desconsidera a ação social pró-justiça: “o mundo sempre foi assim, os humanos se diferenciam pelo mérito”.

– Mas, pequeno cronista, e os líderes do tráfico, o Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC), tais facções, você não teme e nem mesmo condena seus papeis nas violências?

Não mais do que o clã, que condicionou a vida de uma terra dadivosa de povo trabalhador com antecedentes originários ou de imigração, agora revelado quadrilha por investigação da Polícia Federal, exaustiva dizem, embora para descobri-los e condená-los fosse apenas ter olhos abertos e narizes tampados para não sentirem o fedor.

Desta vez, felizmente, não pedimos deixar pra lá. Inté!

Luís Costa – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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Última Atualização: 15/07/2024