A presença de representantes russos e ucranianos na mesa de negociações marca um raro momento diplomático após anos de impasse e tensões militares


Em um conflito marcado por destruição, dor e impasses diplomáticos, qualquer sinal de progresso merece atenção. As negociações de paz realizadas em Istambul na semana passada, mediadas pela Turquia, trouxeram um sopro de cauteloso otimismo, ainda que insuficiente para garantir uma resolução definitiva. O acordo para a troca de mil prisioneiros de cada lado e a disposição de discutir propostas de cessar-fogo por escrito representam passos modestos, mas significativos, em meio a uma guerra que já dura anos.

A importância desse diálogo não pode ser subestimada. Foi a primeira vez em três anos que delegações russas e ucranianas se sentaram diretamente para negociar, um feito diplomático que deve ser creditado, em parte, aos esforços turcos. O chanceler Hakan Fidan celebrou o momento como “importante para a paz global”, destacando o valor do engajamento persistente.

No entanto, como bem observou o analista Baris Doster, da Universidade de Mármara, esses avanços, embora concretos, não devem alimentar ilusões. A paz não será alcançada da noite para o dia, especialmente quando as raízes do conflito permanecem intocadas.

O maior obstáculo, como apontam os especialistas ao Xinhua, é a postura inflexível da União Europeia. Enquanto os EUA demonstram certa abertura a mudanças táticas sob a nova administração, a UE mantém sua estratégia de prolongar a guerra até que a Rússia seja enfraquecida. Essa abordagem, além de arriscada, ignora o custo humano e a instabilidade global gerada pelo conflito.

A reação negativa do bloco europeu às negociações de Istambul — provavelmente influenciada por sua exclusão do processo — revela uma desconexão entre a retórica de paz e a realidade geopolítica.

As exigências russas, é claro, também são um entrave. Moscou insiste na retirada das tropas ucranianas de territórios ocupados e no reconhecimento dessas regiões como parte da Rússia, condições inaceitáveis para Kiev e seus aliados ocidentais.

Ainda assim, o fato de ambos os lados estarem dispostos a continuar conversando — mesmo que em meio a desconfianças mútuas — é um avanço. Como destacou o historiador Ilyas Kemaloglu, em um cenário onde a diplomacia tem sido escassa, qualquer movimento em direção ao diálogo deve ser visto como encorajador.

O caminho para a paz ainda é incerto, e as próximas semanas serão decisivas para avaliar se esse frágil momento pode evoluir para algo mais substancial. Enquanto isso, a comunidade internacional deveria apoiar iniciativas como a da Turquia, que demonstram que, mesmo em guerras aparentemente intermináveis, a diplomacia ainda pode — e deve — ter um lugar.

Afinal, se há uma lição a ser aprendida com essa guerra, é que nenhuma vitória militar justifica o sofrimento prolongado de milhões. A esperança, por mais tênue que seja, precisa ser cultivada

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Last Update: 19/05/2025