
O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou ao jornal “The Guardian”, em entrevista publicada nesta segunda-feira (8), que o Brasil não vai pressionar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a deixar o poder. Segundo ele, qualquer decisão sobre renúncia depende exclusivamente do próprio chefe do Executivo venezuelano.
“Se Maduro chegar à conclusão de que deixar o poder é a melhor coisa para ele e a melhor coisa para a Venezuela, será uma conclusão dele… O Brasil jamais imporá isso; jamais dirá que isso é uma exigência… Não vamos pressionar para que Maduro renuncie ou abdique”, declarou Amorim na entrevista ao jornal britânico.
O assessor também alertou para os impactos de um eventual conflito militar envolvendo a Venezuela. “A última coisa que queremos é que a América do Sul se torne uma zona de guerra – e uma zona de guerra que inevitavelmente não seria apenas entre os EUA e a Venezuela. Acabaria por ter envolvimento global e isso seria realmente lamentável”, afirmou.

Amorim também comentou sobre a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de fechar o espaço aéreo venezuelano, classificando a medida como “um ato de guerra”. Segundo ele, um conflito poderia gerar reações em cadeia no continente. “Se houvesse uma invasão, uma invasão de verdade… acho que sem dúvida veríamos algo semelhante ao Vietnã — em que escala é impossível dizer”, afirmou.
Na mesma entrevista, Amorim declarou acreditar que uma guerra poderia reacender o sentimento antiamericano na América Latina e unir forças políticas da oposição venezuelana contra qualquer intervenção externa. “Eu conheço a América do Sul… todo o nosso continente existe graças à resistência contra invasores estrangeiros”, disse.
A reportagem do “The Guardian” também destacou que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não reconheceu oficialmente a proclamação da vitória de Maduro nas eleições por problemas apontados na contagem dos votos. Amorim informou que o Brasil é contrário a qualquer deposição forçada. “Se cada eleição questionável desencadeasse uma invasão, o mundo estaria em chamas”, afirmou, ressaltando que não falava oficialmente em nome do Itamaraty.