Amorim alerta que invasão dos EUA pode gerar conflito “como o Vietnã”

Uma invasão dos Estados Unidos à Venezuela poderia desencadear um conflito “semelhante ao Vietnã” na América do Sul, alertou o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, em entrevista ao The Guardian. 

“Se houvesse uma invasão, uma invasão real… acho que, sem dúvida, você veria algo semelhante ao Vietnã – em que escala é impossível dizer”, disse Amorim em entrevista para Tom Phillips nesta segunda-feira (8).

Amorim remete à derrota histórica sofrida pelos Estados Unidos em 1975, quando a resistência liderada pelo Vietnã do Norte superou o aparato militar norte-americano e encerrou a guerra em favor das forças comunistas.

Para o ex-chanceler, a escalada promovida por Donald Trump — do fechamento do espaço aéreo aos ataques no Caribe — representa um risco concreto de transformar o continente em uma zona de guerra.

“A última coisa que queremos é que a América do Sul se torne uma zona de guerra – e uma zona de guerra que inevitavelmente não seria apenas uma guerra entre os EUA e a Venezuela. Acabaria tendo envolvimento global e isso seria realmente lamentável”, alertou.

A crise se agravou nos últimos meses, à medida que Trump intensificou a pressão militar e política sobre Caracas. 

Desde agosto, Washington dobrou a recompensa por informações que levem à captura de Nicolás Maduro, mobilizou a maior operação naval no Caribe desde a crise dos mísseis de 1962 e ordenou uma série de ataques aéreos contra embarcações classificadas como “barcos de drogas”, resultando em mais de 80 mortos sem qualquer comprovação pública de vínculo com o narcotráfico. 

À ofensiva bélica somam-se decisões de impacto direto sobre a circulação civil, como o fechamento integral do espaço aéreo venezuelano decretado por Donald Trump no fim de novembro, medida que Amorim qualificou como “um ato de guerra” por impor um bloqueio unilateral ao país vizinho. 

Em entrevista ao The Guardian, o ex-chanceler também considerou a iniciativa “totalmente ilegal”.

Em declarações anteriores, Amorim já havia advertido que uma “intervenção externa” na Venezuela “pode incendiar a América do Sul” e provocar um “ressentimento imenso” no continente, ao comentar a série de bombardeios norte-americanos contra embarcações venezuelanas no Caribe e no Pacífico. 

À AFP, ele afirmou que a escalada militar poderia levar à “radicalização da política em todo o continente” e gerar “problemas concretos de refugiados” no Brasil e na Colômbia, caso Washington avance para operações terrestres.

Amorim afirmou ao The Guardian que a região tem histórico de resistência a iniciativas militares estrangeiras. 

“Eu conheço a América do Sul… todo o nosso continente existe por causa da resistência contra invasores estrangeiros”, disse o diplomata, ao advertir que uma intervenção ordenada por Washington poderia reacender o sentimento antiamericano que marcou a segunda metade do século XX.

Apesar de reconhecer que houve “problemas” na eleição venezuelana de 2024, Amorim reiterou que nenhuma disputa sobre resultados justifica ações armadas ou tentativas de mudança de regime impostas de fora. 

“Se cada eleição questionável desencadeasse uma invasão, o mundo estaria em chamas”, afirmou, ao ressaltar que eventuais decisões sobre o futuro político da Venezuela pertencem exclusivamente ao seu povo e não podem ser condicionadas à estratégia militar norte-americana.

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