Mark Zuckerberg voltou às manchetes graças a uma recente entrevista concedida a um podcast. Mais uma vez, o robótico bilionário dono da Meta mostrou que o futuro que sonha para a humanidade é, na realidade, um pesadelo. Não satisfeito com o nome dado ao seu conglomerado, um termo que deriva de metaverso, ideia originada no livro de ficção científica “Snow Crash” que vê o tal metaverso de forma muito crítica e negativa (distópica, se preferirem), Zuckerberg agora propôs que tenhamos modelos grandes de linguagem como amigos.

Sim, na falta de amigos reais, o dono do Facebook sugere que nos tornemos mais próximos desses assistentes. “À medida que o ciclo de personalização se inicia e a IA passa a conhecer você cada vez melhor, acho que isso será realmente cativante”, disse ele empolgado.

Para dar um ar científico, de gênio da tecnologia, a sua colocação, o dono da Meta nos ataca com “dados”:

“Uma coisa que aprendi trabalhando com redes sociais há tanto tempo é que existe uma estatística, uma coisa maluca… O americano médio tem menos de três amigos e a pessoa média tem uma demanda significativamente maior, 15 ou algo assim. Acho que chega um momento em que você fica muito ocupado e não consegue lidar com mais pessoas.”

Por mais que o senhor possua uma infinidade de dados sobre nossas relações pessoais, permita-nos duvidar desses números completamente arbitrários. Verdadeiros ou não, é fato que há uma epidemia de depressão, possivelmente relacionada à vida solitária e atomizada de setores da classe média, algo que se agravou especialmente após a pandemia e o trabalho remoto. Um dado de 2019 (pré-pandemia!) que podemos confirmar é que metade dos habitantes de Estocolmo, na Suécia, mora sozinho. Para Zuckerberg, a solução para esse colapso social se encontra nos nossos queridos assistentes. É a solução pragmática:
“Isso vai substituir as conexões presenciais ou as conexões da vida real? Minha resposta padrão é provavelmente não. Acho que há todas essas coisas que são melhores nas conexões físicas, quando você pode tê-las, mas a realidade é que as pessoas simplesmente não têm a conexão e se sentem mais sozinhas na maior parte do tempo.”

Curiosamente, sua empresa oferece essa solução! E o bondoso bilionário, defensor da censura recém-convertido em guardião da liberdade de expressão, quer acabar com esse estigma na sociedade:

“Acho que hoje pode haver esse estigma. Imagino que, com o tempo, encontraremos o vocabulário na sociedade para sermos capazes de articular por que isso é valioso e por que as pessoas que fazem essas coisas são racionais ao fazê-las e por que isso agrega valor às suas vidas. Mas também acho que essa área ainda é muito incipiente. Existem empresas que fazem terapeuta virtual e namorada virtual, mas é muito cedo…”

Ainda é muito cedo, caro leitor. Não estamos prontos para esse futuro maravilhoso onde a coisa que a maioria das pessoas mais gostaria de fazer, passar tempo com pessoas queridas, seja automatizada por uma solução que só não é obviamente inferior para pessoas muito machucadas e doentes, algo que nossa sociedade infelizmente não para de produzir.

É como a automação da arte, algo espontâneo que a maioria das pessoas gostaria de fazer por vontade própria, mas que no sistema capitalista transforma-se num trabalho como outro qualquer. Ao menos os capitalistas de antigamente queriam automatizar o trabalho braçal, justamente para que pudéssemos nos dedicar a atividades criativas, à arte, à ciência, às relações humanas.

Por algum motivo, querem nos vender um futuro em que tudo aquilo que faz valer a pena estar vivo é feito por máquinas. Somos forçados a imaginar que restará aos humanos fazer tudo aquilo que faz com que desejássemos estar mortos! A distopia é abertamente o objetivo dos visionários capitalistas de nossa época.

Neste espaço, já criticamos inúmeras vezes a dita inteligência artificial, não porque somos contra a tecnologia ou não a achemos útil, mas porque há um esforço enorme para imbuir a nova tecnologia de um ar místico. Agora podemos perceber outro aspecto que nos incomodava, mas ainda não tinha sido exposto de forma tão clara: os produtos que nos querem empurrar envolvendo essa tecnologia são os mais esdrúxulos possíveis.

Já pudemos conversar com pessoas que nos disseram ter um “namorado” em outro país. Não, o casal não havia se conhecido pessoalmente e se separado por alguma circunstância da vida. Conheceram-se online e mantiveram uma relação que podemos imaginar ser parcialmente (ou inteiramente) platônica por um ano. A ideia nos pareceu esquisita, mas vivemos numa era estranha, no qual ideias aparentemente incompatíveis com a realidade são artificialmente conjuradas e forçadas goela abaixo daqueles que se recusam a abandonar o materialismo. É compreensível que pessoas possam se aproximar e ter afinidade umas com as outras por relações virtuais. É estranho que essas relações possam evoluir para um “namoro”. Agora, o que dizer se a “pessoa” que está do outro lado da conexão nem sequer é humana?

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Last Update: 04/05/2025