Em meio aos aromas de variada gastronomia e de sons de todo o mundo, às 14h de sábado, o espaço internacional da Festa do Avante ficou completamente lotado para um debate que colocou a América Latina no centro das atenções. Mediado por Cristina Cardoso, da Secção Internacional do PCP, o encontro reuniu dirigentes de partidos comunistas do Brasil, Chile, Colômbia, Cuba e Uruguai, num clima de forte internacionalismo e solidariedade política.

Pelo PCdoB, Aldo Arantes abriu os trabalhos lembrando que seu filho nasceu no Uruguai, período em que viveu no país durante a ditadura militar brasileira. Recordou também que foi preso pela PIDE em 1962, em Portugal, reforçando sua ligação pessoal e política com a história das lutas internacionais. Em seguida, afirmou: “A América Latina tem sido, durante muitos anos, vítima da agressão imperialista, e continua a resistir com firmeza”. A partir daí, sublinhou a ofensiva dos EUA contra Venezuela e Cuba, e conectou o quadro latino-americano à transição para um mundo multipolar, em que os BRICS ganham densidade.

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Arantes ainda destacou a dimensão ideológica do confronto: “Estamos diante de uma guerra cultural, uma guerra de valores, em que a extrema-direita manipula sentimentos de ódio e fé para tentar impor sua hegemonia”. Denunciou a ação das big techs e anunciou o 16º Congresso do PCdoB, em outubro, como momento de organização e acúmulo político.

Do Partido Comunista do Chile, Antonio Valdivia relatou os avanços do ciclo iniciado com Gabriel Boric, como a redução da jornada para 40 horas e a ampliação da gratuidade universitária. “Foi uma conquista construída com diálogo e mobilização social, que mostra que a esquerda, mesmo sem maioria parlamentar, pode transformar a vida do povo”, disse. Ele também alertou para a ofensiva da extrema-direita e defendeu a necessidade de alianças internas e regionais.

A ministra do Trabalho Glória Inés Ramírez, do Partido Comunista Colombiano, enfatizou o programa do governo de Gustavo Petro, centrado em justiça social e transição ecológica. “Somos uma região marcada por colonialismo e desigualdade, mas também um território de esperança e resistência, que tem muito a oferecer ao mundo”, declarou. Denunciou ainda a militarização do Caribe e lembrou que a América Latina concentra recursos estratégicos que despertam o apetite do imperialismo.

Pelo Partido Comunista de Cuba, Juan Miguel García Díaz agradeceu a solidariedade internacional e reafirmou a resistência ao bloqueio. “Podem apertar, podem intensificar as sanções, mas Cuba não se renderá. Mantemos saúde e educação como direitos inalienáveis do nosso povo”, afirmou. Ele também recordou o centenário de Fidel Castro, a ser celebrado em 2026, como marco da continuidade do pensamento revolucionário.

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Representando o Partido Comunista do Uruguai, Virginie Ros destacou a experiência da Frente Ampla como exemplo de unidade popular. “A luta contra o imperialismo exige que transformemos a unidade em ação concreta. Não basta declarar solidariedade: é preciso vivê-la todos os dias, nos sindicatos, nas ruas e nas instituições”, afirmou. Para ela, o desafio é enfrentar um capitalismo em crise que tenta capturar a disputa ideológica.

Ao longo do debate, emergiu um fio comum: a necessidade de defesa da soberania, de políticas antineoliberais e do combate à desinformação que alimenta projetos autoritários. As intervenções reforçaram a centralidade da disputa de valores, da ciência e da história, contrapondo-se ao irracionalismo e às narrativas de ódio.

Como síntese, os participantes afirmaram que a integração latino-americana é condição para proteger recursos estratégicos, ganhar escala tecnológica e financeira, ampliar direitos e blindar a democracia. Mais que uma palavra de ordem, integração significa coordenação política, cooperação produtiva, complementaridade energética e científica, além de solidariedade ativa diante de agressões externas, o caminho para um futuro de paz, desenvolvimento e justiça social na região.

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Last Update: 08/09/2025