A ordem internacional do pós-guerra, que foi moldada e construída pelos Estados Unidos, encontra-se em crise e o conceito do multilateralismo está sob grande pressão, em um quadro que se agravou com a volta de Donald Trump à presidência norte-americana.
“As tarifas exorbitantes, as ameaças de anexação, as violações de normas internacionais básicas e as ordens executivas de seu governo retirando os EUA de organizações e acordos multilaterais criaram um ambiente de extrema incerteza”, explicam Jorge Castañeda, ex-ministro das Relações Exteriores do México, e Carlos Ominami, ex-ministro da Economia do Chile.
Em artigo publicado no Project Syndicate, os políticos destacam que os recentes recuos de Trump foram em resposta à pressão dos mercados e dos investidores, e não a contrapesos institucionais como o Congresso ou a Suprema Corte.
“A erosão da posição global dos Estados Unidos perdurará além da era Trump, porque grande parte dos danos é irreversível”, explicam os articulistas, listando ainda outros pontos de immpacto, como a impunidade com que o governo do primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu tem cometido em Gaza com armas fornecidas pelos EUA.
Enquanto os EUA perderam força econômica, supremacia tecnológica, respeitabilidade política, autoridade moral e a confiança de grande parte do mundo, a China emergiu como candidata à liderança global, mostrando mais interesse na busca por oportunidades de negócios e garantir acesso a matérias-primas, além de usar sua influência para obter votos para suas posições em organizações internacionais.
Diante disso, Castañeda e Ominami afirmam que a América Latina precisa “encontrar uma maneira de minimizar os riscos e maximizar as oportunidades”, e o chamado “não alinhamento ativo” fornece o mecanismo mais adequado, na visão de ambos.
“O não alinhamento ativo exige a construção de um novo tipo de relacionamento com ambas as potências que transcenda a antiga dinâmica centro-periferia. Em vez de adotar uma política de alinhamento automático, os países latino-americanos devem buscar interesses nacionais e regionais legítimos”, explicam.
“Os países latino-americanos devem escolher o que for melhor para seus interesses e rejeitar os esforços de qualquer uma das superpotências para aplicar pressão pesada ou manipulá-las”, pontuam, destacando que o alinhamento latino-americano com os EUA resultou em muita intervenção política e pouco desenvolvimento, mas que aderir à China seria um erro grave, já que “sua assistência não é incondicional”.