Amazônia: o dilema entre a exploração econômica e o valor ambiental
por Augusto Cesar Barreto Rocha
A Amazônia possui um enorme valor como um sistema. Sua destruição reduz seu valor. Mesmo assim, há pessoas que são frontalmente contrárias aos órgãos ambientais. É curioso observar como alguém pode se dizer defensor dos princípios ESG (sigla em inglês que significa “Environmental, Social and Governance”, ou Ambiental, Social e Governança, conjunto de práticas para empresas sustentáveis) e simultaneamente atacar órgãos ambientais.
As mudanças da relação do capitalismo com a sociedade com os princípios da sustentabilidade ganharam um ar de legitimidade e aspiração de um futuro mais inclusivo, onde seria possível reduzir (e quem sabe eliminar) as mazelas sociais. Quando a reorganização dos setores produtivos na Amazônia visa implantar novos projetos atacando os órgãos de meio-ambiente, frequentemente surge a impressão de um arremedo mal disfarçado de sustentabilidade.
O encontro da proteção com a oportunidade econômica é a grande necessidade que temos. Por exemplo, na exploração do petróleo na costa do Amapá sem levar em consideração os riscos ambientais é um enorme símbolo desta discussão. Olha-se apenas para algo entre 10 e 30 bilhões de barris de petróleo. Todavia, para além deste, há vários outros casos de subsunção real que visam ganhos econômicos e ausência de preocupações sociais ou ambientais.
Do transbordo de combustíveis no meio do Rio, que a Transpetro insiste em fazer, às dragagens conduzidas pelo DNIT, que não garantem a profundidade ideal, podemos perceber o quanto não se busca o equilíbrio ambiental ou um aprofundamento da compreensão da problemática. A inércia histórica da recuperação da BR-319, com governança de seu entorno também é um símbolo.
O descaso ambiental vai além dos ataques aos órgãos ambientais. As obras normalmente são pela metade: dragagens inúteis ou busca de exploração sem cuidado. Até quando seguiremos em um jogo de perdas para o sistema e ganhos para poucos? O caminho de saída passa pelo entendimento que é necessário investir para lucrar na Amazônia. Não será possível apenas lucrar olhando a dimensão única da exploração. Para este caminho é necessário atropelar a lei e as pessoas da região.
O respeito ao meio ambiente é a grande oportunidade que temos. Falta este interesse genuíno. As questões seguem pela metade, seja na ausência da infraestrutura sustentável, seja na falta de ESG verdadeiro. Não há um entendimento de que a região precise ser respeitada. O que predomina é a exploração pura e simples, sem regras ou cuidados. Tanto é assim que na discussão pública não se fala dos riscos ou problemas, há apenas um ataque aos órgãos ou pessoas de meio ambiente.
Será muito bom para a floresta se a BR-319 for recuperada com toda a governança de seu entorno. Será um desastre ambiental se ela for apenas asfaltada, sem as condicionantes. Será uma oportunidade estudar o leito dos rios e as possibilidades de transformar o Rio Amazonas em uma hidrovia, com condições de tráfego de grandes navios. Tem potencial de desequilíbrio e de desperdício se seguirmos a dragar a esmo ao longo de anos.
Enquanto não houver estudo e uso dos estudos para as ações, seguiremos com a ameaça da destruição, pois as ações só olham para o ganho econômico. O problema é que só o ganho econômico de curto prazo destruirá o maior valor da Amazônia. Precisamos de mais lideranças acordadas para esta questão e a Cop30 traz uma oportunidade para que mais projetos como a indústria limpa de Manaus se transformem em modelo e para que o Brasil desperte para as particularidades e necessidades regionais.
Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM
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