No 26º episódio do podcast Papo Reto, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) recebeu Paulo Kliass, doutor em economia e membro da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão do Governo Federal. A entrevista analisou a política monetária brasileira e a atuação do Banco Central sob a liderança de Roberto Campos Neto, nome indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Zarattini, que é economista pela USP, e Kliass discutiram o impacto das elevadas taxas de juros, a Selic hoje está em 10,5%, um dos maiores índices do mundo, na vida da população. “Na prática, a taxa é decidida pelo Banco Central. A cada 45 dias, os nove diretores do BC participam do Comitê de Política Monetária e decidem a Selic, que serve de referência para o sistema bancário. O problema é que o Brasil ocupa a vice-liderança mundial em termos de taxa de juros, o que gera grandes desafios econômicos”, explicou Kliass.
Kliass também criticou a justificativa do Banco Central para manter a Selic em patamares elevados, argumentando que a inflação está sob controle e que não há necessidade de juros tão altos. “Quando Campos Neto diz: temos que manter uma taxa Selic alta para impedir a volta da inflação’. Isso não é verdade, a inflação está relativamente sob controle e o Brasil não precisa ter uma taxa de juros estratosférica”, defendeu Kliass.
Lucros dos bancos
Além das taxas de juros, a entrevista também abordou a influência dos grandes bancos no mercado financeiro e a falta de intervenção adequada do Banco Central para regular e conter abusos financeiros.
Zarattini destacou os lucros exorbitantes dos bancos como um reflexo dessa falta de regulação: “Os quatro maiores bancos do Brasil lucraram R$ 27 bilhões, um aumento de 13% em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior. O Banco Central não combate o monopólio dos bancos”, apontou o deputado. “E ainda assim, Roberto Campos Neto insiste que a Selic alta é ruim para os bancos. Coitadinhos dos bancos”, ironizou Kliass.
Na avaliação de Kliass, o Banco Central está mais comprometido com os interesses dos banqueiros do que com os da sociedade em geral. “Historicamente, isso sempre esteve presente e a gente chama de captura. As agências reguladoras de uma maneira geral e também o Banco Central são capturados pelos interesses dos entes das empresas que eles deveriam controlar. E o exemplo mais concreto é esse sujeito, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. A única coisa que ele faz é defender os interesses dos banqueiros, do sistema financeiro e não defender os interesses da maioria da sociedade”, afirmou Kliass.
Impacto dos juros altos
Zarattini também chamou a atenção para o impacto dos juros altos sobre a dívida pública, destacando que os recursos gastos com juros poderiam ser investidos em outras áreas prioritárias. “No acumulado de 12 meses até junho de 2024, a União, os estados, os municípios e as estatais desembolsaram R$ 835,7 bilhões para pagamento de juros da dívida pública. Campos Neto veio aqui e justificou o aumento dos juros, mas, na realidade, os juros altos apenas alimentam a dívida pública do Brasil, que já representa uma despesa de R$ 800 bilhões apenas em juros, fora o valor principal da dívida”, concluiu o parlamentar.