No dia 1o de agosto de 2015, Jornal GGN trouxe a revelação exclusiva: o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, esteve no Departamento de Justiça com ex-sócia de concorrentes da Eletronuclear – um mês antes de denunciar o Almirante Othon por corrupção.

Antes disso, nosso colunista André Araújo já havia denunciado o jogo anti-nacional do Ministério Público Federal, enviando a força tarefa da Lava Jato aos Estados Unidos, com informações contra a Petrobras.

No início, as notícias sobre o Almirante Othon eram vagas. Em 2 de abril de 2015, um dos principais divulgadores da Lava Jato, o colunista Fausto Macedo, do Estadão, relatava a delação premiada de Dalton Avancini, diretor-presidente da Camargo Corrêa: 

“O empreiteiro Dalton Avancini, diretor-presidente da Camargo Corrêa Construções e Participações, revelou a existência de cartel nas contratações e pagamentos nas obras da Usina Nuclear Angra 3 e citou o nome do diretor-presidente da Eletrobrás Eletronuclear – subsidiária estatal para o setor de energia nuclear -, almirante Othon Luiz Pereira da Silva, em sua delação premiada. Avancini disse que “ouviu dizer” que havia uma promessa de propina para o militar”.

Em cima dessa delação, no dia 28 de julho de 2015 era anunciada a prisão de Othon.

Durante todo esse período, o Jornal GGN e este colunista sustentaram duas teses:

  1. A prisão de Othon se deveu a uma ação geopolítica dos Estados Unidos, contando com os colaboracionistas da Lava Jato. Essa constatação continua de pé.
  2. Othon foi acusado injustamente de corrupção.

Formei convicção devido aos motivos alegados: a de que Othon garantiria a continuidade do programa, decisão que cabia ao presidente da República.

Othon foi condenado a 43 anos pelo juiz Marcelo Bretas. Sua filha também foi condenada mas, posteriormente, foi absolvida pelo TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2a Região), que reduziu a pena de Othon para 4 anos e 10 meses.

Agora, à luz da informação trazida pelo repórter Aguirre Talento, da UOL, o jogo muda de figura. Segundo a reportagem, a filha de Othon, Ana Cristina Toniolo, acionou a Justiça para tentar repatriar R$ 58 milhões mantidos em uma conta na Suíça, bloqueada desde 2019.

A Operação Descontaminação

A Operação que prendeu Othon, pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, também acusou diretamente o ex-presidente Michel Temer de beneficiário da corrupção em março de 2019.

A empresa beneficiária teria sido a AF Consult do Brasil e a Engevix. A AF Consult tinha a participação da empresa finlandesa AF Consult Ltd e da Argeplan, ligada a Temer e a seu operador, coronel Lima. Segundo as investigações, Lima sugeriu ao sócio da Engevix – que assumiu o projeto – o pagamento de propina a Temer. No total, a empresa teria recebido R$ 10 milhões. A lavagem de dinheiro foi feito através de contratos fictícios entre a Construbase e a PDA Projetos, do Coronel Lima.

A denúncia também menciona a ocultação de cerca de R$ 60 milhões em contas na Suíça, por Othon e suas filhas.

Pedido de desculpas

Sempre destaquei, no GGN, a diferença entre a força tarefa da Lava Jato, no Rio, e a de Curitiba. O estardalhaço do juiz Bretas, no entanto, me fez cometer um notável erro de avaliação.

À luz dos fatos revelados pela UOL, retiro toda a defesa que fiz do Almirante Othon. Continuo reconhecendo sua relevância para o programa nuclear, assim como sua competência como físico e engenheiro. Mas, decididamente, a iniciativa da filha comprova todas as suspeitas levantadas pela Operação Descontaminação.

Meu pedido de desculpas ao procurador José Augusto Vagos, que conduziu a operação, de quem sempre tive as melhores referências, por ter duvidado do apuro técnico das investigações.

Outro lado

O artigo está aberto para manifestação da defesa de Ana Cristina Toniolo.

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Last Update: 20/01/2025