O consumo de grandes quantidades de alimentos ultraprocessados (UPFs, na sigla em inglês) aumenta o risco de morte prematura, alerta um estudo internacional publicado nesta segunda-feira 28.
O consumo desses alimentos, que incluem sorvetes, carnes processadas, pães produzidos em massa e refrigerantes, já foram associados a diversos problemas de saúde, como o risco de obesidade, doenças cardíacas e câncer.
Os ultraprocessados geralmente contêm altos níveis de gordura saturada, sal, açúcar e aditivos, o que, segundo os especialistas, deixa menos espaço na dieta das pessoas para alimentos mais nutritivos.
Eles também tendem a incluir aditivos e ingredientes que não são utilizados quando as pessoas cozinham elas próprias os alimentos que consomem, como conservantes, emulsificantes, corantes e aromatizantes artificiais.
Cada 10% a mais de ingestão de ultraprocessados, como pães, bolos e refeições prontas, aumenta em 3% o risco de uma pessoa morrer antes de completar 75 anos, afirma o estudo.
Situação alarmante nos EUA e no Reino Unido
No estudo, publicado no portal científico American Journal of Preventive Medicine, que analisou dados de oito países, os pesquisadores descobriram que os ultraprocessados atingiram 54,5% da ingestão energética das pessoas nos Estados Unidos e 53,4% no Reino Unido.
Os cientistas estimam que esses alimentos estejam envolvidos em até uma em cada sete mortes prematuras que ocorrem em alguns países, sendo que eles estão associados a 124.107 mortes prematuras por ano nos EUA por ano e a 17.781 no Reino Unido.
Enquanto 4%, 5%, 6% e 10,9% das mortes prematuras em Colômbia, Brasil, Chile e Canadá, respectivamente, são atribuíveis ao consumo de UFPs, esse índice é 13,7% nos EUA e 13,8% no Reino Unido – onde foi registrada a maior proporção entre os oito países pesquisados.
Quanto maior a ingestão, maior o risco de morte
“Primeiramente, estimamos uma associação linear entre a participação dos UPFs na dieta e a mortalidade por todas as causas, de modo que cada aumento de 10% na participação de ultraprocessados na dieta aumenta o risco de morte por todas as causas em 3%”, disse o pesquisador-chefe do estudo, Eduardo Nilson, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Brasil.
Ele diz que os autores encontraram uma conexão entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a mortalidade por todas as causas ao examinarem pesquisas oficiais realizadas anteriormente no Reino Unido e nos EUA, bem como na Austrália, Brasil, Canadá, Colômbia, Chile e México.
“As mortes prematuras atribuíveis ao consumo de alimentos ultraprocessados aumentam significativamente de acordo com sua participação na ingestão energética total dos indivíduos. Uma alta ingestão de UFPs pode afetar significativamente a saúde”, afirmam os pesquisadores.
“Os UPFs afetam a saúde além do impacto individual do alto teor de nutrientes essenciais – sódio, gorduras trans e açúcar – devido às mudanças nos alimentos durante o processamento industrial e ao uso de ingredientes artificiais, incluindo corantes, aromatizantes e adoçantes artificiais, emulsificantes e muitos outros aditivos e coadjuvantes de processamento. Portanto, avaliar as mortes por todas as causas associadas ao consumo de UFPs permite uma estimativa geral do efeito do processamento industrial de alimentos na saúde”, concluíram os cientistas.
Cientistas pedem ação dos governos
No estudo, os pesquisadores pedem que os governos emitam recomendações dietéticas visando reduzir o consumo dos ultraprocessados. Nilson alerta que embora o impacto dos problemas de saúde causados pelos ultraprocessados seja maior em países de alta renda, ele também cresce em países de renda baixa e média renda.
Alguns especialistas, porém, afirmam que não está claro por que os UFPs estão associados a problemas de saúde e questionam se isso se deve ao processamento desses alimentos ou ao fato de as pessoas optarem por alimentações ricas em gordura, açúcar e sal em vez de opções mais nutritivas.