Matéria publicada nesta sexta-feira (28) pela Revista Movimento, sob o título “França: a Nova Frente Popular já é uma derrota”, mostra que a esquerda liberal não pode ver um barco afundando que logo pula dentro.
O olho da matéria diz que “A fragmentação ao redor da coalizão de esquerda representa a principal obstáculo na luta contra a extrema direita nas próximas eleições francesas”, mas essa euforia não corresponde à realidade. Pois a ‘Nova’ frente tem como objetivo manter as coisas como estão, e é justamente isso que o povo francês não quer.
A esquerda pequeno-burguesa joga com a política do mal menor, que agora tem o nome de combate ao fascismo, e em nome dessa política o céu é o limite. Tivemos uma mostra disso nas últimas eleições presidenciais. Sob a desculpa de se combater o bolsonarismo, a esquerda propôs uma frente ampla com a direita golpista e “arrependida”, carinhosamente apelidada de “campo democrático”.
Na França, a Nova Frente Popular, é uma operação para que o candidato a primeiro-ministro seja alguem do partido socialista, o que significa trocar o Macron pelo próprio Macron, pois o Partido Socialista é o partido da OTAN, das políticas neoliberais, de apoio ao sionismo, tudo o que os franceses repudiaram nas urnas, ao qual a esquerda está se unindo. Em outras palavras, é a esquerda que se propõe a manter vivo esse tipo de governo, o que só pode dar errado.
Corrida ao centro
Com a derrocada do imperialismo e de sua política, a esquerda pequeno-burguesa não radicaliza, não polariza. Em vez de defender mais firmemente os interesses da classe trabalhadora, ela corre para centro, o que não deixa de ser uma passagem para a direita. Se quisermos fazer uma comparação, é a mesma política que vem sendo seguida, e deve ser abandonada, pelo governo Lula.
A crise do imperialismo tem jogado o mundo cada vez mais na pobreza, aumento do custo de vida, inúmeras guerras eclodindo e até mesmo o perigo de uma guerra mundial. E enquanto a esquerda tenta remendar esse tecido que esgarça, a extrema direita tem adotado um discurso nacionalista e de defesa dos interesses da população. Podemos discutir como seria esse governo dos fascistas e quais seria as suas contradição com a classe trabalhadora, uma vez que a vitória da extrema direita em alguns casos se dá contra a posição da burguesia, como foi o governo Trump.
Mas o problema é que a extrema direita aparece para o trabalhador comum como sendo antissistema, o mesmo que faz o bolsonarismo no Brasil, enquanto a esquerda se ocupa em remendar as instituições, defendendo o STF etc., e vem sendo ligada ao “sistema”.
Preocupação com os votos
Um dos defeitos da esquerda liberal é pensar a curto prazo. A matéria da Revista Movimento gasta parágrafos discorrendo sobre o sistema de votação francês. Diz que “A França está dividida em 577 distritos eleitorais para as eleições legislativos, sendo 539 na metrópole, 27 nos departamentos e territórios ultramarinos (eufemismo para designar as ex-colônias) e 11 representando os franceses residentes no exterior” etc. O que o texto se esquece é do principal, a extrema direita está tomando conta da França, já tem praticamente metade do eleitorado.
No entanto, discorrer sobre o sistema eleitoral teve, sim, uma função, defender a Frente, como se vê quando afirma que “Este sistema reforça a importância da unidade eleitoral. No segundo turno, somente vale o primeiro lugar. De nada adianta um brilhante segundo lugar, esses votos serão desperdiçados. Então é de vital importância somar os votos da esquerda para ganhar o pleito no maior número de distritos possíveis”.
Em vez de tratar o que está em jogo, o crescimento da extrema direita não apenas na França, mas no mundo, o artigo da Movimento se preocupa com um resultado eleitoral, que pode não ser tão favorável para os fascistas. Talvez o partido de Marine Le Pen, não consiga fazer maioria para neste momento poder governar, mas o que dizer das próximas eleições?
Colapso do imperialismo
O principal é fazer um balanço do que está acontecendo, o porquê do avanço da direita. Ainda mais se considerarmos que a extrema direita francesa tem origem no próprio fascismo. O pai de Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen, foi paraquedista do exército francês na guerra da Argélia. Esses militares responsáveis pelo assassinato e tortura de milhares de argelinos. Para aqueles que queiram ter uma boa ideia de como agiam esses fascistas, recomendamos o filme A Batalha de Argel de Gilles Pontecorvo.
Trata-se de admiradores do nazismo alemão, que tentaram dar vários golpes de Estado na França e de outras tantas tentativas de assassinato do ex-presidente francês, o general Charles de Gaulle.
Enquanto afunda, o imperialismo joga suas cartas na política da “democracia x fascismo”, e é essa política seguida pela esquerda filoimperialista. Que serve, inclusive, para que parte da esquerda condene países oprimidos pelo imperialismo, como Rússia, China, Irã, Venezuela, Nicarágua, dentre outros.
O que vemos, por parte dessa esquerda liberal, é a defesa de políticas ditadas pelo imperialismo, como o clima, o identitarismo; não vemos a defesa dos interesses da classe trabalhadora. Essa é uma política que está naufragando e é preciso pular para fora desse barco. A classe trabalhadora está sendo atraída pelo canto de sereia da “rebeldia” fascista, e a esquerda se agarra a uma pedra que afunda rapidamente.
A classe trabalhadora precisa ser trazida de volta para a esquerda, e isso só acontecerá se entender que aí estão defendendo seus interesses. Misturar-se com o neoliberalismo é a receita infalível para o desastre. Não adianta fazer o jogo do imperialismo e chamar o trabalhador de gado.
A esquerda precisa combater a extrema direita de forma consequente, precisa mostrar a demagogia desse setor, precisa ir para as ruas em defesa dos povos oprimidos, como é o caso dos palestinos na Faixa de Gaza. Precisa atacar a OTAN que vem utilizando a Ucrânia como bucha de canhão contra a Rússia e massacrando o povo ucraniano. Precisa combater os bloqueios econômicos contra Cuba, Venezuela. Uma política genocida que visa massacrar as populações dos países que é praticada impunemente. Só assim a esquerda pegará de volta a confiança da classe trabalhadora.