
Quatro membros influentes do círculo de Donald Trump mantiveram conversas secretas com figuras da oposição ucraniana, enquanto Washington se alinha a Moscou para pressionar Volodymyr Zelensky a deixar o cargo.
Entre os interlocutores dos aliados de Trump estão Yulia Tymoshenko, ex-primeira-ministra, e membros do partido de Petro Poroshenko, antecessor de Zelensky.
De acordo com o site Poltico, dos EUA, as negociações, segundo parlamentares ucranianos e um especialista republicano em política externa dos EUA, giraram em torno da possibilidade de eleições presidenciais antecipadas, que hoje são impossibilitadas pela lei marcial. Críticos afirmam que realizar eleições no meio da guerra poderia favorecer a Rússia, já que muitos eleitores estão na linha de frente ou refugiados.
Os assessores de Trump acreditam que Zelensky perderia uma eleição devido ao desgaste da guerra e à insatisfação popular com a corrupção. Sua popularidade caiu nos últimos anos, mas teve leve recuperação após um embate com Trump e o vice JD Vance na Casa Branca. Apesar disso, pesquisas ainda mostram Zelensky à frente na disputa presidencial.
Oficialmente, o governo Trump nega interferência na política ucraniana. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmou que Trump busca apenas um “parceiro para a paz”. No entanto, Trump chamou Zelensky de “ditador sem eleições” e sugeriu que ele “não ficaria por muito tempo” se não aceitasse um acordo com a Rússia. A diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, chegou a acusar falsamente Kiev de cancelar eleições.
Mesmo com a movimentação da equipe de Trump, Zelensky segue mais popular que Tymoshenko e Poroshenko. Uma pesquisa da Survation apontou que 44% votariam nele, contra apenas 10% de Poroshenko e 5,7% de Tymoshenko.
A ideia em debate nos bastidores é realizar eleições após um cessar-fogo temporário, mas antes de negociações de paz formais – um plano também defendido pelo Kremlin. Tymoshenko, Poroshenko e o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, já se manifestaram contra eleições durante a guerra. No entanto, segundo um especialista republicano, aliados de Tymoshenko e Poroshenko “conversam com a equipe de Trump, se apresentando como opções mais viáveis e dispostas a aceitar acordos que Zelensky rejeita”.

Os partidos de Tymoshenko e Poroshenko negam que estejam negociando eleições e afirmam buscar apenas “uma paz justa”. Poroshenko disse que trabalha para manter o apoio bipartidário dos EUA à Ucrânia e alertou para a falta de comunicação entre Kiev e Washington.
Nos últimos dias, membros do governo Trump intensificaram a pressão para que Zelensky renuncie, a menos que aceite o plano dos EUA para encerrar a guerra rapidamente – mesmo que isso envolva concessões à Rússia. Desde o confronto na Casa Branca, políticos ucranianos vêm sinalizando, de forma discreta, a necessidade de restaurar as relações com Washington.
O presidente da Câmara ucraniana, Ruslan Stefanchuk, e o ex-líder do partido de Zelensky, Dmytro Razumkov, defendem que a prioridade da Ucrânia seja reparar os laços com Trump. A decisão de Trump de suspender a ajuda militar aumentou a crise política, impulsionando conversas de bastidores com aliados do governo americano.
Na segunda-feira, Trump disse que Zelensky “não ficará por muito tempo” se não avançar em um acordo de paz. O conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, afirmou que os EUA precisam de “um líder que possa negociar com Washington e Moscou para acabar com a guerra”.
O impacto da crise também se reflete no Parlamento ucraniano. Tymoshenko tem sondado deputados de partidos rivais para convencê-los a trocar de legenda, apostando que Zelensky será forçado a convocar eleições em breve.
Apesar da pressão, Zelensky descarta renunciar. Em conversa com jornalistas em Londres, ironizou a situação: “Se houver eleições este ano, eu provavelmente venceria”. Ele reiterou que só deixaria o cargo caso a Ucrânia recebesse adesão plena à Otan, pois isso significaria o cumprimento de sua missão.
Embora os ataques de Trump não tenham enfraquecido diretamente Zelensky, a crise com Washington preocupa seu governo. O apoio inicial que recebeu após o embate na Casa Branca vem diminuindo, enquanto os impactos da deterioração das relações com os EUA se tornam mais evidentes.
Pesquisas mostram que a opinião pública ucraniana está se tornando mais favorável a um acordo para encerrar a guerra. Um quarto da população, majoritariamente militares e seus familiares, defende a continuidade do conflito até a retirada completa das forças russas. No entanto, dois terços dos ucranianos priorizam negociações para acabar com a guerra, sendo que metade desse grupo aceita concessões significativas e a outra metade defende um cessar-fogo imediato.
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