O governo alemão divulgou na última quinta-feira, 17, um pacote de ajuda militar ampliado para a Ucrânia, reafirmando seu papel no apoio ao país no conflito contra a Rússia.

De acordo com o Conselho Federal Alemão, o pacote inclui uma lista atualizada de equipamentos militares a serem enviados a Kiev, com um valor total de aproximadamente 28 bilhões de euros, que inclui armamentos e treinamento para as forças ucranianas.

Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, a Alemanha já retirou cerca de 5,2 bilhões de euros de seus próprios estoques militares para auxiliar o governo ucraniano.

Além dos armamentos, mais de 10 mil soldados ucranianos passaram por treinamentos militares em território alemão.

O novo pacote de ajuda inclui uma série de equipamentos militares de alta performance. Entre os armamentos estão veículos blindados do tipo MRAP (protegidos contra minas e emboscadas), munições para os tanques Leopard 2, canhões antiaéreos autopropulsados Gepard, além de mísseis para os sistemas de defesa aérea IRIS-T SLM. O envio de obuses autopropulsados Zuzana 2, projéteis de artilharia de 122 mm e 155 mm, drones de reconhecimento e ataque, rifles de assalto e armas antitanque portáteis também foram confirmados.

Em uma reunião do Grupo de Contato para a Ucrânia, em Bruxelas, o Ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, anunciou novos compromissos para 2025, incluindo a doação de quatro sistemas de defesa aérea IRIS-T adicionais, 300 mísseis guiados, 100 radares de vigilância terrestre, 100 mil projéteis de artilharia e 25 veículos de combate de infantaria Marder.

Possível Ruptura na Política de Armamentos de Longo Alcance

O anúncio mais significativo da Alemanha foi a sugestão de uma possível mudança de postura sobre o envio de mísseis de cruzeiro Taurus, com alcance de até 500 km, à Ucrânia. Essa mudança foi indicada pelo chanceler eleito Friedrich Merz, em entrevista à emissora ARD, no último domingo. O envio dos mísseis Taurus representaria uma ruptura com a política adotada pelo ex-chanceler Olaf Scholz, que constantemente rejeitou os pedidos ucranianos por armamentos de longo alcance, argumentando que isso poderia levar a uma escalada perigosa no conflito.

Se a decisão for confirmada, a Alemanha começaria a fornecer armamentos com capacidade de atingir alvos em profundidade no território russo, o que poderia alterar significativamente o cálculo estratégico do conflito. A medida gerou reações imediatas, incluindo uma advertência por parte do Ministério das Relações Exteriores da Rússia. Maria Zakharova, porta-voz do ministério russo, afirmou que qualquer ataque com mísseis de cruzeiro contra alvos russos, envolvendo apoio da Bundeswehr, seria considerado um envolvimento direto da Alemanha nas operações militares.

Debate Interno sobre a Nova Postura

Dentro da política alemã, a proposta de Merz gerou debate. Matthias Miersch, líder do Partido Social-Democrata (SPD), indicou que a decisão sobre os mísseis Taurus deve ser reavaliada com base em informações de inteligência mais detalhadas. “Espero que o novo chanceler, uma vez totalmente informado pelas agências [de inteligência], reavalie a questão claramente”, afirmou Miersch, ressaltando a necessidade de uma análise cuidadosa dos impactos dessa decisão.

Essa mudança na política de armamentos, se confirmada, seria a primeira vez que a Alemanha forneceria armamentos capazes de atingir alvos dentro do território russo. Especialistas apontam que isso poderia ter consequências profundas para as relações internacionais e a dinâmica do conflito, elevando as tensões entre a Alemanha, a Rússia e os outros membros da OTAN.

Contexto Geopolítico e Pressão Interna

A nova postura da Alemanha ocorre em um contexto geopolítico volátil. A pressão sobre os aliados ocidentais para intensificar o apoio militar à Ucrânia tem aumentado, especialmente à medida que o conflito se prolonga. Com a crescente incerteza sobre a continuidade do apoio dos Estados Unidos sob uma possível presidência de Donald Trump, países como Alemanha e França têm buscado assumir uma liderança mais ativa no auxílio à Ucrânia, incluindo no envio de armamentos pesados e sistemas de defesa avançados.

A Alemanha tem enfrentado uma pressão crescente para fornecer meios mais eficazes de defesa à Ucrânia, incluindo armas de longo alcance, para melhorar a capacidade de contra-ataque do país. Em paralelo, a pressão da Rússia sobre os países ocidentais tem aumentado, com Moscou ameaçando represálias caso armamentos de longo alcance sejam enviados à Ucrânia.

Impactos e Perspectivas Futuras

A decisão sobre o envio de mísseis Taurus à Ucrânia tem o potencial de alterar o curso do conflito e de redefinir o papel da Alemanha no cenário internacional. Caso Merz confirme a entrega dos mísseis, isso pode marcar uma mudança histórica na postura militar da Alemanha, com implicações significativas para a relação entre a Alemanha e a Rússia, bem como para a dinâmica de poder na OTAN.

A medida também reflete um crescente realinhamento estratégico da Alemanha em relação à sua política externa, especialmente no contexto de um cenário internacional incerto. O futuro do apoio europeu à Ucrânia e a posição da Alemanha como líder no fornecimento de armamentos de longo alcance serão determinantes para o rumo da guerra e para a configuração das alianças internacionais nos próximos anos.

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Last Update: 21/04/2025