As autoridades alemãs anunciaram nesta terça-feira 13 uma série de operações contra uma rede extremista de conspiradores e informaram a dissolução do grupo “Reino da Alemanha”, acusado de “atacar a ordem democrática e liberal”.

As operações aconteceram em sete regiões do país, anunciou o Ministério do Interior em um comunicado. O grupo tem quase 6 mil integrantes, que “negam a existência da República Federal da Alemanha e rejeitam sua ordem jurídica”. Eles teriam articulado uma tentativa de golpe de Estado em 2022.

A associação “Reino da Alemanha” está proibida a partir desta terça-feira, já que “seus objetivos e atividades são contrários à legislação penal e à ordem constitucional”, explicou o ministério. O comunicado informa que a proibição também afeta as “numerosas organizações afiliadas a esta associação”.

A Procuradoria Federal anunciou ainda, como parte da operação, a detenção de quatro pessoas, incluindo três fundadores do grupo, que há uma década colocaram em prática estruturas e instituições “pseudoestatais”, como um sistema bancário e de seguros, uma moeda própria e um escritório de registro de documentos de identidade fictícios.

As operações policiais desta terça-feira tiveram início durante a madrugada em edifícios utilizados pelo grupo e nas residências de apartamentos de seus membros mais importantes nos estados de Baden-Württemberg, Baixa Saxônia, Renânia do Norte-Vestfália, Renânia-Palatinado, Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia.

“Cidadãos do Reich”

Classificada como extremista pelo ministério, a associação ilegal “Reino da Alemanha” é parte de um movimento de conspiração conhecido pelo nome genérico de “Reichsbürger” (“Cidadãos do Reich”).

Os simpatizantes deste fenômeno, quase 23 mil em 2022, segundo o serviço de inteligência interna, rejeitam a legitimidade da República alemã moderna e defendem a vigência do Reich anterior à Primeira Guerra Mundial, em forma de monarquia.

Vários seguidores do movimento chegaram a criar miniestados. No ano passado, por exemplo, o grupo ganhou destaque na imprensa alemã após alguns veículos apontarem que crianças nascidas nessas comunidades não estavam sendo registradas em cartório ou frequentando a escola.

Os seguidores do movimento costumam imprimir seus próprios passaportes e carteiras de motorista com antigos símbolos imperais.

Os adeptos também costumam ser seguidores de outras correntes conspiracionistas, entre elas a crença de que a Alemanha seria governada por membros de um suposto “deep State” (Estado profundo). Vários são adeptos de teorias conspiratórias do movimento QAnon, para quem as principais instituições de governo do mundo são dominadas por uma elite de pedófilos satanistas. O movimento também ganhou tração durante a pandemia, quando os Reichsbürger passaram a se mesclar com ativistas antivacinas.

Quem são os detidos?

De acordo com o Ministério Público Federal, quatro homens foram presos nesta terça-feira, incluindo o autointitulado “monarca” Peter Fitzek.

Segundo um porta-voz da promotoria federal duas das prisões foram feitas no distrito de Saxônia Central, no estado da Saxônia, e as demais nos distritos de Oder-Spree, em Brandemburgo, e Bad Dürkheim, na Renânia-Palatinado.

Buscas também foram realizadas na região de Solothurn, na Suíça, onde o alvo também era um cidadão alemão.

Os quatro alemães presos têm 37, 38, 46 e 59 anos de idade e serão levados entre esta terça e quarta-feira perante um juiz no Tribunal Federal de Justiça em Karlsruhe, quando será decidido se eles devem ou não ser mantidos sob custódia.

Trama golpista

O caso mais notável nos últimos anos envolveu outra facção do movimento, chamada de União Patriótica, que foi desbaratada em 2022, acusada de liderar um complô para derrubar o governo alemão. Seus organizadores são suspeitos de planejar invadir o Bundestag (Parlamento) e prender políticos importantes antes de instalar um governo interino.

Cerca de 27 pessoas foram acusadas em conexão com a tentativa de golpe de Estado e 380 armas de fogo foram encontradas. No final de abril de 2024 tiveram início três julgamentos separados por terrorismo e conspiração contra os acusados.

Extrema-direita na mira

O novo governo da Alemanha, liderado pelo conservador Friedrich Merz, enfrenta o avanço das ideologias extremistas de direita.

O partido de extrema-direita Alternativa para Alemanha (AfD) é a primeira força de oposição no Bundestag, após obter uma votação recorde nas eleições legislativas de 23 de fevereiro.

(Com AFP e DW)

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Last Update: 13/05/2025