Alcolumbre, Motta e ministro: os bastidores da derrota do governo no caso do IOF

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), conversando
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) – Reprodução

A surpreendente votação que derrubou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na Câmara dos Deputados, em meio ao chamado “recesso branco” do Congresso, teve origem em uma articulação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Com informações do Estadão.

A iniciativa de pautar o projeto antes do combinado com o Planalto foi repassada por Alcolumbre ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), como retaliação à permanência de Alexandre Silveira no comando do Ministério de Minas e Energia.

Segundo interlocutores, Alcolumbre se comprometeu com a base governista a votar o projeto que amplia de 513 para 531 o número de deputados, desde que Motta antecipasse a análise do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que extingue o IOF. A movimentação pegou de surpresa até integrantes da oposição e causou forte desgaste à articulação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A tensão entre Alcolumbre e Silveira se arrasta desde 2023, quando o grupo do senador se sentiu traído por decisões do ministro. Embora Silveira tenha sido indicado ao cargo com apoio de Alcolumbre, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Eduardo Braga (MDB-AM) e Otto Alencar (PSD-BA), a relação se deteriorou.

O episódio mais recente de atrito ocorreu durante a votação de vetos presidenciais que impactaram as tarifas de energia elétrica, com aumento estimado de 3,5% nas contas de luz.

Alexandre Silveira, do Ministério de Minas e Energia, falando e gesticulando, sério
Alexandre Silveira, do Ministério de Minas e Energia – Reprodução

Alcolumbre atribui a Silveira a articulação para que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, trabalhasse contra a derrubada dos vetos, o que fracassou. Mesmo com a resistência de Costa, o governo votou majoritariamente pela derrubada, o que gerou forte reação negativa da sociedade e impulsionou a narrativa de que o Congresso cedeu a pressões de grandes lobbies do setor elétrico.

Diante do clima de insatisfação, Alcolumbre pediu que Hugo Motta antecipasse a votação do IOF, mesmo diante de alertas de que a derrota seria certa, já que parlamentares resistem fortemente a qualquer tipo de aumento tributário. Nos bastidores, líderes do PT e auxiliares de Lula ainda esperavam que a análise só ocorresse após a apresentação do plano da equipe econômica para redução de renúncias fiscais.

Enquanto a Câmara aprovava o fim do IOF, o Senado concluiu, por margem mínima (41 votos), a votação do projeto que amplia o número de deputados. Segundo apuração, líderes como Alcolumbre, Braga e Ciro Nogueira (PP-PI) atuaram para aprovar a matéria em troca de apoio a Motta, desgastado pela manobra contra o Planalto.

O enfraquecimento de Silveira se intensifica, e fontes próximas ao Planalto confirmam que sua saída já foi discutida por Lula. A crise compromete indicações para agências reguladoras, paralisa votações no Senado e se soma a um ambiente político instável, agravado por críticas do ministro Fernando Haddad, que acusou o Congresso de agir em favor dos mais ricos em detrimento da população mais vulnerável.

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