Antes de Ismail Hanié, o principal dirigente do Hamas era o dr. Abdel Aziz Al-Rantisi. Ele foi um dos sete cofundadores do movimento Hamas durante a Primeira Intifada, o grande levante do povo palestino em 1987. Por sua militância e liderança dos palestinos durante 17 anos, ele recebeu o apelido de Leão da Palestina. Ele foi assassinado em 2004, durante a intensa repressão promovida pelos sionistas após a Segunda Intifada. Menos de um mês antes disso, o líder espiritual do Hamas, xeique Ahmed Iassin, foi assassinado por “Israel”.

Ele nasceu em 1947 na agora despovoada aldeia palestina de Iibna, um ano antes da Naqba, a limpeza étnica de 805 mil palestinos que precedeu a fundação de “Israel”. Rantisi tinha seis meses quando ele e sua família foram forçados a buscar refúgio na Faixa de Gaza. Junto com seus 11 irmãos, cresceu no campo de refugiados de Khan Iunis. Um evento que o marcou foi o assassinato de seu tio por soldados israelenses quando ele tinha apenas nove anos. Rantisi viu a invasão de Gaza em 1956, a ocupação de Gaza em 1967, a guerra de 1973 entre Egito e “Israel”. Sua história se confunde com a da Faixa de Gaza após a criação de “Israel”.

Como estudante de destaque, tendo frequentado escolas da UNRWA, Rantisi obteve uma bolsa de estudos para estudar medicina na Universidade de Alexandria, no Egito, onde se formou como médico em 1971. Lá se aproximou da Irmandade Muçulmana. Após a graduação, ele inicialmente trabalhou como médico em Khan Iunis antes de retornar a Alexandria para se especializar em pediatria, obtendo um mestrado em 1976 e depois retomando seu trabalho em Gaza, tornando-se chefe de pediatria no Hospital Nasir.

Em 1983, no entanto, deixou o trabalho no hospital devido à repressão promovida pela ocupação israelense quando foi preso pela primeira vez. O motivo foi seu papel na organização de uma campanha para suspender o pagamento de impostos a “Israel”. Sua militância apenas cresceu e em 1987 ele e outros seis membros da Irmandade fundaram o Movimento de Resistência Islâmica, Hamas.

O Estado sionista o prendeu pela segunda vez em fevereiro de 1988, e ele permaneceu detido até setembro de 1990. Foi preso novamente pela terceira vez e mantido em detenção administrativa por um ano inteiro, em dezembro de 1990. Rantisi foi um dos 415 militantes palestinos do Hamas e da Jiade Islâmica expulsos em dezembro de 1992 por “Israel” para a aldeia de Marj al-Zuhur, no sul do Líbano. Depois disso foi escolhido para atuar como porta-voz do movimento.

Em 15 de dezembro de 1993, ele retornou com seus companheiros à sua terra natal, mas foi imediatamente colocado em detenção administrativa. Rantisi então lutou contra os Acordos de Oslo e advogou pela resistência à ocupação israelense por todos os meios disponíveis. Em agosto de 1995, um tribunal militar israelense o sentenciou a uma pena de prisão; ele foi libertado em abril de 1997. Além de ser reprimido pelo Estado de “Israel”, Rantisi também foi preso em várias ocasiões pela própria Autoridade Palestina. Quando começou a Segunda Intifada, a perseguição a Rantisi se tornou ainda maior.

O assassinato de al-Rantisi

Em 10 de junho de 2003, as forças israelenses tentaram assassinar Rantisi; um de seus guarda-costas foi morto e seu filho Ahmad ficou gravemente ferido. Em setembro do mesmo ano, ele foi novamente alvo, sem sucesso. A terceira tentativa de assassinato ocorreu três dias após o assassinato de xeique Ahmadi; Rantisi sobreviveu milagrosamente à tentativa. O Hamas não revelou que ele havia sido alvo até que fosse confirmado pelas agências de segurança israelenses.

Após o assassinato de xeique Ahmad Iassin em 22 de março de 2004, o Hamas elegeu Rantisi como seu sucessor. Enquanto lamentava a perda de Iassin, semanas antes de sua própria morte, Rantisi disse: “É a morte, seja por assassinato ou por câncer. Nada vai mudar. Se for por Apache [helióptero de guerra] ou por parada cardíaca, prefiro o Apache”. Poucos dias depois, em 17 de abril, ele, junto com um guarda-costas e seu filho Mohamed, foram assassinados em um ataque de míssil de um helicóptero Apache israelense contra o carro em que estavam viajando.

Em 18 de abril de 2004, dezenas de milhares de palestinos compareceram ao seu funeral, que começou no Hospital Shifa, em Gaza. Orações foram recitadas na Mesquita al-Omari em sua homenagem e ele foi enterrado no cemitério de Xeique Riduan. O assassinato de Assin e Rantisi marcou o fim de um período de lutas do Hamas – o período inicial até a sua ascensão como partido mais popular do Palestina. Cerca de dois anos depois, o Hamas participaria das eleições e seria vitorioso, Ismail Hanié seria eleito primeiro-ministro da Palestina.

O Hamas então passou por mais 17 anos num período de ascensão política até chegar à operação Dilúvio de al-Aqsa. Um novo grande homem surgiu nesse tempo, Ismail Hanié, que foi alçado a principal líder do Hamas. Agora com seu martírio, uma nova etapa se abre, com Iahia Sinuar, o próprio arquiteto da operação militar que mudou o mundo e iniciou o fim do Estado de “Israel”. Cada geração de mártires do Hamas dá origem a uma direção ainda mais forte.

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Última Atualização: 11/08/2024